sexta-feira, 13 de julho de 2012

Ovo (Yumurta)

"Ovo" (2007) é o primeiro filme da trilogia turca do Semih Kaplanoglu, este longa mostra Yusuf em fase adulta, tendo que retornar à família por causa da morte de sua mãe. O poeta Yusuf volta para sua cidade natal, onde não aparecia havia anos e se depara com uma casa abandonada e quase totalmente destruída. As lembranças do passado, a culpa e o remorso também tomam conta deste homem. Mas ele encontra conforto e alívio com a presença de Ayla, uma jovem garota que o espera no local para dar assistência.
Em Istambul Yusuf trabalha em um sebo, a imagem ultrapassa a tela, uma mensagem desesperada e apenas ruídos. Essas características apresentam-se recorrentes. Os diálogos são poucos e porque não, inúteis, já que objetos e pequenos gestos são mais importantes e falam por si só. A narrativa é lenta, os cenários são resplandecentes e contemplativos. Não há música, e sim ruídos. A câmera anda, procura, observa e para por diversos minutos em algum objeto, cenário ou personagem, mostrando o rosto de Yusuf, onde há uma boa dose de solidão e sofrimento contidos. Quem o assiste vai aos poucos entendendo a proposta delicada e simples, um homem cuja vida está naquele lugar de onde saiu há tanto tempo, a vida lhe espera ali, como símbolo disso tudo está o ovo, ao quebrar a casca, desliga-se do laço materno e começa a viver sem a sombra, um descobrir-se, e por fim formar sua própria família.
A vida de Yusuf nos é mostrada através de belas imagens repletas de símbolos. A cena com o cachorro é uma das mais lindas e estranhas, há uma volta às tradições, como o pedido da mãe antes de partir, o sacrifício de um carneiro, do qual Yusuf não crê, mas rende-se, um pedido que não é explicado, mas nos faz sentir e de alguma forma entender tudo aquilo. É um filme enriquecedor que aguça nossa percepção, que nos faz ver além, o sentimento chega a ser palpável, são detalhes subjetivos. Yusuf é um poeta, ele ganhou um prêmio por ter escrito uma poesia chamada "O Poço", da qual é inserida em vários momentos de forma metafórica.
A linguagem é introspectiva e a fotografia é uma obra de arte que fascina, nos absorve para dentro da história, há ternura nas cenas, uma ingenuidade peculiar perpassa os instantes, e é de certa forma libertador.

Para quem optar assistir a trilogia de trás pra frente, começando por "Bal" (Mel), "Süt" (Leite) e Yumurta (Ovo) se faz mais esclarecedor do que pela sequência original.
Para os apaixonados pela sétima arte, este filme turco tende a agradar bastante, o final apesar de ser aberto, dá indícios de que o personagem encontra um caminho, uma evolução interior. A natureza caminha junto, e por diversas vezes se torna a protagonista e mostra-se em símbolos casando com o momento em que o protagonista está passando.
Assista, admire, contemple, este é um filme para encher os olhos e o coração, uma história para ser guardada, e com certeza compartilhada. Bela trilogia!

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