quarta-feira, 25 de julho de 2012

Osama

Antes de qualquer coisa "Osama" (2003) nada tem a ver com o terrorista Bin Laden. Este é o primeiro filme rodado depois da guerra e conta a história de uma menina de 12 anos, sua mãe e um garoto do vilarejo que quase não sobrevivem a uma pacífica passeata organizada por mulheres oprimidas pelo regime Talibã, que termina brutalmente. Após testemunhar um tratamento tão desumano, a mãe se dá conta de seu próprio calvário, enquanto ela e sua filha tentam manter-se vivas. Com a morte do pai e do irmão da jovem, elas têm que encontrar um meio de sobrevivência mantendo isso em segredo do sistema rígido Talibã, que ordena que nenhuma mulher trabalhe ou mesmo saia de casa sem a companhia legítima de um homem.
Mãe e filha tomam conta de pacientes num hospital clandestino, administrado por estrangeiros. Depois de uma invasão do Talibã, o hospital é fechado e a duas ficam sem renda alguma. Desesperada, em busca de qualquer trabalho, a mãe é obrigada a cortar os cabelos da filha e vesti-la como um menino, para que ela possa ganhar algum dinheiro pelo menos para se alimentar. A mãe suplica a um comerciante, dono de uma mercearia que a ajude empregando a menina em sua loja, pois ele havia conhecido seu marido. Ele concorda e tenta protegê-la, agora disfarçada de garoto, a ensina a ser mais convincente. Numa tarde, a polícia religiosa do Talibã obriga todos os homens a irem até a mesquita para orar. A menina, que desconhece a forma como os homens praticam sua fé, comete diversos erros e levanta a suspeita de um dos policiais do Talibã, que está inspecionando o ritual. Ele se aproxima do comerciante depois das orações e o interroga. Ela é tomada de pavor, mas o comerciante consegue dissipar as desconfianças do oficial. No dia seguinte os garotos da vila são levados a uma madrassa, um tipo de escola religiosa, que também serve como centro de treinamento militar do Talibã. Passando a frequentar esta escola, a masculinidade da garota é constantemente posta em discussão.
Um jovem que pede esmolas na primeira cena do filme, sabendo do segredo intercede a seu favor e a protege, endossando a sua verdadeira identidade, declarando que seu nome é Osama. Depois de crescentes suspeitas entre os estudantes e os instrutores do Talibã, a menina é punida por não ser capaz de finalizar uma tarefa e provar a sua masculinidade. No final, suas características físicas a delatam, revelando sua verdadeira identidade. Como resultado de sua mentira imperdoável, ela é levada a julgamento perante a corte do Talibã e sentenciada a casar-se com um velho Mulá. Ao chegar na casa descobre que ele tem outras três esposas e é forçada a juntar-se a elas, em seu miserável mundo.

"Osama" dirigido por Siddiq Barmak, tem o objetivo de discutir o papel e a situação em que vivem as mulheres do Oriente Médio, sobretudo, as que vivenciaram o regime Talibã. A sociedade afegã adota como símbolo de diferenciação de poder entre os homens e mulheres a vestimenta; as mulheres cobrem o corpo e rosto com a burca, em respeito na tradição de que seu corpo é sagrado e, portanto, mostrá-lo em público seria profaná-lo. Aos homens afegãos ficam determinados trajes normais e tem como acessório o kipá quando usado em contexto religioso. Em outras palavras, para aquele povo a mulher é um ser inferior em relação ao homem, por esta razão, ela deve ser protegida. Na falta desta proteção se relega a mulher o isolamento, aprisionando-a num corpo social determinado, a companhia infinita do homem.

A menina não vive sua infância e é destinada a uma vida desgraçada por causa do regime Talibã, perdoada pelo juiz, casa-se com um velho e percebe que nunca terá sua dignidade. Observar seus olhos sempre com lágrimas é dilacerante, toda a pobreza que a condena. A imagem dela pulando corda: um sonho perdido, sua infância roubada por um sistema fanático, sem propósito. As mulheres são tratadas como animais, as viúvas condenadas, algumas apedrejadas diante de centenas de pessoas, outras mendigando alimentos para sobreviver. É um retrato cruel desta cultura. Esse longa é poderoso e nos faz sentir pequenos diante dos acontecimentos.
A interpretação da garota é de arrepiar, ela encarnou a personagem divinamente, a delicadeza em seu rosto duro e amedrontado, seu jeito de andar, etc. A perda da inocência é triste e revoltante. A única coisa que elas desejam é o direito de ser mulher, nada mais.

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