terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Ad Astra

"Ad Astra" (2019) dirigido por James Gray (Z: A Cidade Perdida - 2016) é um filme belo visualmente e que propõe reflexões pertinentes sobre solidão, incertezas e vazio, e não é somente por explorar o espaço que essas sensações são ampliadas, mas, principalmente, por escavar a complexa mente humana. De atmosfera íntima e melancólica acompanhamos a grandiosa jornada de um homem pelo enigmático universo e, por consequência, o encontro de si mesmo.
Após um terrível acidente, um astronauta (Brad Pitt) recebe a notícia de que há algo misterioso ameaçando a sobrevivência de nosso planeta, algo que também está relacionado com o sumiço de seu pai (Tommy Lee Jones). Agora, ele recebe a missão de viajar para tentar solucionar este mistério, que tem segredos que desafiam a existência humana e nosso lugar no cosmos.
Imenso, triste e silencioso, a história foge das convencionalidades de filmes sobre espaço e traz além da beleza plástica bastante verossímil, vide aquele início espetacular em que o astronauta cai da torre de comunicação e fica girando na atmosfera, também reflete sobre questões íntimas do protagonista de maneira contida e inteligente, a sensação de angústia permeia a obra e inebria a cada cena, tanto pelas tomadas maravilhosas no espaço, como nas claustrofóbicas cenas na nave, e pela maneira que o protagonista se comporta diante a tudo, sempre controlado apesar de possuir sentimentos adversos.
Roy é um respeitado astronauta e é convocado para uma missão, pois estranhas emissões de antimatéria dentro do sistema solar estão afetando as fontes de energia da Terra, por incrível que pareça isso pode estar relacionado a seu pai desparecido e ao Projeto Lima, missão comandada por Clifford há mais de 15 anos para captar sinais de vida extraterrestre. Roy é frio e sereno e sabe ser certeiro ao tomar decisões em momentos tensos, uma exigência da profissão que acaba sendo uma tortura, e diante dessa missão precisará ter ainda mais controle, a jornada para reencontrar seu pai no espaço exigirá muito esforço interno, pois existe nele uma ambiguidade e complexidade de sentimentos em relação a esse homem, Roy nunca construiu elos afetivos e seus conflitos são obstáculos bem maiores do que sua longa e perigosa viagem a Netuno.

Brad Pitt está soberbo, um homem repleto de traumas que se mantém impenetrável e que exerce um controle sobre si mesmo capaz de nos deixar perturbados, sempre silencioso e melancólico acompanhamos seus sentimentos por meio de suas narrações, são nesses instantes que o conhecemos profundamente e muitas questões existenciais pungem.
O filme tem um tom sóbrio e fascina por diversos aspectos, especialmente pelo fato de se passar num futuro não muito distante e toda a ideia do espaço criada ser aceitável, como a colonização na lua demonstrando o capitalismo e a ganância do ser humano, o satélite é uma zona de turismo repleto de propagandas e franquias e também possui zonas de conflitos pela aquisição de recursos, Marte também foi colonizado e o retrato é muito interessante, pois existem salas que reproduzem a natureza da Terra, espaços minimalistas claustrofóbicos, mas, no entanto, curiosos. 

"Ad Astra" é introspectivo e lento, traz um vazio e um niilismo que machuca, retrata a busca do ser humano por algo grandioso, suas escolhas por muitas vezes egoístas, o afastamento de si mesmo, os conflitos de identidade, a ganância, a falta de sensibilidade, e a imensa e assustadora solidão.

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