terça-feira, 24 de setembro de 2019

In Fabric

"In Fabric" (2018) dirigido por Peter Strickland (Berberian Sound Studio - 2012) é um filme que transmite nostalgia por causa de sua estética retrô nos remetendo aos clássicos Giallos, uma combinação excêntrica de comédia e terror que o torna numa espécie de conto de fadas sombrio permeado por fortes elementos, como o elegante e estranho vestido cuja cor é denominada como "vermelho artéria", quem o experimenta começa a sofrer terríveis consequências, pois existe uma bizarra maldição envolta nele, a atmosfera de pesadelo e surrealidade é recorrente e seus tons exuberantes quase sempre nos banha em um vermelho extremamente vivo.
Em uma Londres sombria acompanhamos Sheila (Marianne Jean-Baptiste), uma mulher divorciada que divide seu tempo entre escutar desaforos de sua nora Gwen (Gwendoline Christie) e as reclamações de seu chefe no banco, solitária ela tenta encontros, mas sempre insatisfatórios, tudo começa a mudar quando entra numa loja de departamentos e com a ajuda de uma estranha vendedora compra um vestido para se sentir melhor e chamar a atenção, esse vestido de tamanho 36 se adapta ao corpo de quem o veste e encantada e seduzida pelas palavras da vendedora termina levando. Neste ponto é fácil perceber uma crítica ao consumismo que se aproveita das frustrações das pessoas para vender, se falta em Sheila um apelo sexual um vestido ousado seria a solução, mas essa satisfação inclui consequências estranhas advindas de uma maldição, o ritual, um jogo erótico excêntrico e obscuro que os funcionários da loja fazem incluindo manequins com as partes íntimas aparentemente reais são os momentos mais intrigantes, a vendedora Miss Luckmoore vivida por Fatma Mohamed hipnotiza com seu estilo gótico e diálogos e ações enigmáticas. Depois que Sheila usa o vestido a maldição começa a se manifestar, enquanto dormem ele se arrasta pela casa e acaba criando situações de perigo, a imagem dele flutuando em cima de Sheila enquanto dorme realmente causa um desconforto, pois a atmosfera surreal se parece muito com um pesadelo, não há lógica, mas todos os sentidos estão alertas.

O desenvolvimento prende a atenção, se faz interessante e sinistro com suas cores vibrantes e estilo retrô, realmente parece um filme dos anos 70, o único ponto a se questionar é quando a trama envolvendo Sheila termina de forma rápida e logo somos jogados na vida de Reg (Leo Bill), especialista no reparo de máquinas de lavar roupas e que acaba usando o vestido em sua despedida de solteiro e depois o leva para casa e sua noiva o usa também, ou seja, a maldição joga tanto com um tanto com o outro.

"In Fabric" é um exemplar de horror peculiar que não possui uma lógica clara, as situações funcionam como numa estrutura de sonho/pesadelo, gera uma sensação particular a cada espectador e justamente por essa liberdade e originalidade merece a nossa atenção, certamente uma obra que já nasceu cult, o clima criado é fascinante!

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