terça-feira, 11 de junho de 2019

Vox Lux - O Preço da Fama (Vox Lux)

"Vox Lux" (2018) dirigido por Brady Corbet (A Infância de um Líder - 2016) é um filme interessante e narra de forma inconvencional o rumo ao estrelato de uma cantora pop, vemos desde o nascimento vindo de um evento trágico à sua ascensão e fama e seu declínio justamente por toda a glória envolvida em torno de si. A trama cutuca fundo e retrata o quão descarado e perturbador pode ser esse cenário, a indústria da música que cria e constrói artistas presos a um universo paralelo à base de mentiras e obscuridades. Isso por si só eleva a qualidade do longa e vem para bater de frente com filmes que romantizam e fazem endeusar ainda mais essas pessoas. 
Celeste (Natalie Portman) é uma estrela pop que vem para o sucesso como resultado de circunstâncias anormais. O filme é ambientado entre 1999 e os dias atuais, e segue a ascensão de Celeste das cinzas de uma grande tragédia nacional para o estrelato pop. Esta odisseia de 15 anos acompanha a evolução cultural importante do século XXI através de seu olhar.
Somos introduzidos à história secamente e incomoda o rumo que toma, Celeste sobrevive a um tiroteio em sua escola de música e é exposta pela mídia e todos se compadecem, ela e a irmã apresentam uma canção própria, uma forma de homenagem e logo ela é inserida no mercado fonográfico já que possui talento e carisma, as músicas ganham roupagens pop, mas o fato é que as letras não são escritas por ela, mas pela irmã, que no decorrer termina sendo sua sombra e esquecendo de viver sua própria vida. Celeste possui bastante vontade e interesse de crescer e se tornar uma estrela e tudo contribui para que isso se concretize, a tragédia foi primordial para que ganhasse a fama e o desenrolar demonstra situações estranhas e desagradáveis dos bastidores .
O filme é dividido em capítulos, mas a verdade é que possui duas partes e, infelizmente, não há uma continuidade instigante e fluída, a quebra corta a sensação da então chocante primeira parte, somos empurrados sem dó e encontramos Natalie Portman performando, cheia de caras e bocas e extremamente perturbada, ela está retornando aos palcos depois de muitos contratempos e observamos sua instabilidade com a realidade. Apesar de todo o esforço impecável de Natalie Portman quem se sobressai é a jovem Raffey Cassidy, seu olhar passa todo o entusiamo pela carreira e assume uma personalidade forte mesmo aparentando inocência, é claro que as responsabilidades a fizeram se encontrar mais cedo com o mundo adulto e as consequências disso vemos na segunda parte.

É um filme musical, mas é diferente na forma, as canções tem em sua essência a característica repetitiva e mecânica, a trilha sonora foi composta por quem entende do assunto, a cantora Sia. Celeste em dado momento cita que suas músicas são criadas para as pessoas não pensarem enquanto escutam, o tom que o filme adota em não evidenciar o talento e expor a falta de emoção é para demonstrar o quão automatizado é por trás da vida de uma estrela pop. 
Celeste é perturbada, não tem uma relação afetuosa com a filha, que foi criada pela irmã, vivida por Stacy Martin, há uma confusão na segunda parte, já que usaram Raffey Cassidy para interpretar a filha melancólica de Celeste. Impressiona em muitas cenas pela visceralidade de seus rompantes, como na cena em que Celeste se desmonta no banheiro enquanto a irmã tenta acalmá-la. Instantaneamente vêm à mente nomes de inúmeras artistas pop que explodem, depois se destroem e mais tarde tentam um recomeço.

"Vox Lux" é um filme pretensioso e isso não significa que seja ruim, ao contrário, ele propõe uma visão diferente sobre a indústria musical e as celebridades criadas, além de pincelar variados assuntos que a permeiam e suas consequências, há um vazio imenso nisso tudo e por isso pode aparentar que o filme também seja. O diretor Brady Corbet tem um estilo bastante interessante e mesmo com o descompasso e um certo excesso a obra gera boas e importantes reflexões.

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