terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Sob a Sombra (Under the Shadow)

"Sob a Sombra" (2016) dirigido pelo estreante Babak Anvari é um filme de terror iraniano calcado no drama psicológico e em ricos simbolismos. A inovação está em colocar o contexto político dos anos 80, o conflito militar entre Irã/Iraque em evidência, o terror das explosões de bombas é misturado a uma abordagem sobrenatural da lenda Djinn, um espírito que exerce grande força decisiva sobre pessoas ou locais.
Teerã, 1988. A guerra entre Irã e Iraque ressoa pelo seu oitavo ano. Uma mãe e sua filha ficam pouco a pouco dilaceradas com as campanhas de bombardeio sobre a cidade junto com a sangrenta revolução do país. Lutando diariamente para ficarem juntas em meios aos terrores, um misterioso mal ronda o apartamento onde elas moram.
Shideh (Narges Rashidi) tenta recuperar o direito de voltar e concluir seu curso de medicina, anos atrás ela foi expulsa da faculdade por estar envolvida em manifestações políticas, porém seu pedido é negado, a situação da guerra só piora e seu marido médico formado é chamado para trabalhar na linha de frente em outra cidade, então Shideh e sua filha Dorsa (Avin Manshadi), ficam sozinhas no apartamento tendo de lidar com esse terrível cotidiano violento. O marido diz para elas saírem de lá e irem à casa de sua mãe, Shideh reluta e permanece em seu lar. Um dia, um míssil atinge o prédio e mata uma pessoa e ainda destrói boa parte da infraestrutura, Shideh não arreda o pé do local, enquanto os outros moradores se vão, o teto da sala está rachando e além do mais algo estranho começa a atormentar sua filha, a boneca preferida dela desaparece e a menina não irá a lugar algum sem ela, a atmosfera sombria, o medo e a tensão predomina. Dois tipos de situações assustadoras, o pavor das bombas e o do desconhecido que habita o apartamento, os alarmes do toque de recolher são constantes e há uma cena em que aterrorizadas por eventos sobrenaturais, Shideh sai às pressas com sua filha para rua e se esquece de colocar o véu e vai presa, o que nos faz lembrar da opressão vivida pelas mulheres no país. Aliás, o filme é recheado de metáforas envolvendo essas questões.
Destaque para a movimentação de câmera, todo o horror que a história possui advém disso, são cenas que produzem um efeito bastante aterrorizante. A essência do filme, talvez, se explique com uma frase dita por uma das personagens, de que as pessoas podem se convencer de que qualquer coisa é real se elas quiserem.

A ambientação é ótima, o uso das cores, só podia não ter o tão famigerado jump scare e alguns outros clichês do gênero, a cena do lençol, por exemplo. Mas, deixando isso de lado o filme inova colocando o contexto da guerra entre Irã e Iraque e a forma como a personagem se introduz no universo permeado pela lenda do Djinn, fazendo uma analogia inteligente do como o moralismo religioso engole as pessoas, especialmente as mulheres.

2 comentários:

  1. É a primeira ver que leio sobre um filme de terror iraniano.

    Abraço

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    Respostas
    1. Apesar de conter elementos clichês do gênero, é uma boa opção já que se difere no contexto.

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