sexta-feira, 24 de julho de 2015

Tatuagem

"O símbolo da liberdade é o cu, que é democrático e todo mundo tem!"

"Tatuagem" (2013), primeiro longa do maravilhoso roteirista Hilton Lacerda é um filme nacional crítico, contestador e ousado, ele permite que pensemos em todos os dogmas e preconceitos que regem a sociedade, e por isso se faz inesquecível. Ele encanta por sua naturalidade e pela sua transgressão.
O cinema pernambucano vem se destacado enormemente pelas suas particularidades, citando alguns: "Amarelo Manga", de Cláudio Assis, "Febre do Rato", de Cláudio Assis, "O Som ao Redor", de Kléber Mendonça Filho, "Eles Voltam", de Marcelo Lordello, entre tantos outros, são diretores, produtores, roteiristas e grandes atores que estão seguindo por uma carreira promissora tanto nacional como internacional.
"Tatuagem" em todos os festivais que passou arrancou elogios da crítica e público. Recife, 1978. Clécio Wanderley (Irandhir Santos) é o líder da trupe teatral Chão de Estrelas, que realiza shows repletos de deboche e com cenas de nudez. A principal estrela da equipe é Paulete (Rodrigo Garcia), com quem Clécio mantém um relacionamento. Um dia, Paulete recebe a visita de seu cunhado, o jovem Fininha (Jesuíta Barbosa), que é militar. Encantado com o universo criado pelo Chão de Estrelas, ele logo é seduzido por Clécio. Não demora muito para que eles engatem um tórrido relacionamento, que o coloca em uma situação dúbia: ao mesmo tempo em que convive cada vez mais com os integrantes da trupe, ele precisa lidar com a repressão existente no meio militar em plena ditadura. 
O filme afronta a convencionalidade, as cenas de nudez por exemplo quebram ditaduras de esteriótipos e promovem o pensamento de que não há mal nenhum em mostrar o corpo, assim como não há mal nenhum em ter prazer. Clécio vivido por Irandhir Santos (O Som ao Redor - 2012) é um personagem apaixonante, libertário, a favor do amor e da arte. Aliás, Irandhir é um dos melhores, senão o melhor ator nacional, ele brilha em qualquer personagem e está numa fase sensacional de sua carreira. Rodrigo Garcia como Paulete, a travesti desbocada e ciumenta foi uma grande revelação, e Jesuíta Barbosa como Fininha que está entre a repressão e a liberdade dá um toque de inocência, ele não entra em conflito com que está acontecendo, apenas vive o romance mesmo sofrendo grande pressão no quartel. A cena de sexo que acontece entre ele e Clécio é uma das coisas mais lindas deste filme, que a seu modo é extremamente poético.
Em 1978 o regime militar já estava desgastado, as mudanças davam indícios, mas enquanto essa nuvem repressora ainda pairava no ar Fininha precisava obedecer ordens enquanto lidava com a liberdade que surgia de dentro pra fora ao conviver com Clécio, este que vamos descobrindo aos poucos, ele já foi casado e tem um filho adolescente que até frequenta o cabaret.

O filme é recheado de cenas espetaculares, as apresentações de Clécio e sua trupe são debochadas e críticas, as canções ficam grudadas na cabeça, são criativas, subversivas e inteligentes. Como pano de fundo está a ditadura, que de um modo ou outro continua em diversas roupagens, e reflete o quanto o ser humano ainda não sabe lidar com a liberdade do outro.
"Tatuagem" é um filme corajoso, cômico e transgressor. Quando alguém dizer que não há beleza e inteligência juntamente com humor no cinema nacional, não tenha dúvidas ao citar este filme, pois ele uma das melhores obras atuais. É poesia bruta e ao mesmo tempo sensível!

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