segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
O Quadro (Le Tableau)
Um castelo, jardins floridos, uma floresta ameaçadora, esse é o quadro de um pintor que por um motivo misterioso deixa inacabado. Nesse quadro vivem três tipos de personagens: os "Toupin" que são totalmente pintados, os "Pafinis" que faltam algumas cores, e os "Reuf" que são apenas esboços. Os "Toupin" consideram-se superiores e por isso tomam o poder e escravizam os "Pafinis" e os "Reuf". Convencidos de que só o pintor pode restaurar a harmonia ao terminar o quadro, Ramo, Lola e Plume decidem procurá-lo. Ao longo da aventura algumas questões surgem: O que aconteceu com o pintor? Por que ele deixou o quadro inacabado? Por que tem começado a destruir algumas de suas pinturas? Qual será o segredo que o pintor esconde?
"Le Tableau" é um filme belíssimo ao explorar as vertentes da pintura, vemos ao longo da obra vários estilos como o de Picasso, Matisse, Modigliani, Gauguin, entre outros, somos conduzidos por uma narrativa inteligente, mas não complexa, essa animação sossegadamente pode e deve ser vista por crianças. A maneira que aborda as diferenças entre classes, o poder de ser quem somos e construir a si próprios é de uma leveza e encantamento sem tamanho.
Na trama, Ramo, um "todopintado", fica indignado ao ver sua amada Claire, uma "inacabada" ser rejeitada pelos demais, então juntamente com Lola, uma jovem intrépida, e Plume, um "esboço" mau-humorado, mas dotado de uma generosidade como poucos possuem, seguem em busca das tão queridas respostas. Nesta empreitada eles passam pela floresta negra, considerada perigosa, e avante encontram a saída do quadro. Quando saem, Lola invade um outro quadro, o cenário é a guerra e um doce menino decide acompanhá-la, pois acredita que ali não é o seu lugar.
A partir daí se deparam com vários outros quadros que ganham vida e contam às suas histórias, entre eles uma mulher desnuda e o auto-retrato do pintor que tem papel fundamental na história, onde os ensina que não precisam do pintor para se completarem. Essa descoberta os levam a autossuficiência, a presença do pintor já não importa mais, então pegam todas as bisnagas de tinta e levam para o interior do quadro. Agora todos têm o poder de ser coloridos à sua maneira. As diferenças já não importam mais. Só que para Lola existem muitas perguntas não respondidas, ela quer ir além e encontrar o pintor, apenas vê-lo e saber da sua existência. Enquanto todos alegres comemoram suas novas roupagens, Lola persegue suas dúvidas e termina encontrando o seu criador. Essa cena é dotada de poesia, onde a arte fala por si só.
Jean-François Laguionie nos presenteia com um filme sobre arte e poesia de maneira fabulesca, uma animação como poucas. Original, divertida e filosófica.
A desigualdade entre classes sociais é uma questão que o filme aborda muito sutilmente, os supremos são os "todospintados" simbolizando os ricos e superiores, que com voz ativa conseguem manter os "inacabados" e os "esboços" como escravos os fazendo crer que a submissão é necessária nesta sociedade. Enquanto os completos ficam no castelo os outros ficam à parte, nos cantos, mas eles tomam consciência e se perguntam o que houve com o pintor, pois não é justo dar mais a uns do que outros, o conceito de criador é quebrado quando se julgam fazedores da sua própria história e se completam por si mesmos.
Em certos momentos até pode parecer uma animação somente de aventura, ou com tons infantis, mas ele carrega simbolismos e mensagens maravilhosas a todos. É imperdível!
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