segunda-feira, 15 de setembro de 2014
A Cabana (Die Summe Meiner Einzelnen Teile)
"A Cabana" (2011) é um filme alemão com uma forte crítica social, ele questiona o que é ser louco em uma sociedade que sufoca, onde a hipocrisia domina deixando de lado certos aspectos individuais. A tradução do título é bem pobre e não passa seriedade ou profundidade, coisa que o longa tem de sobra. É imensamente triste se for parar pra pensar, dá vontade de se embrenhar em meio a floresta assim como Martin, sentindo a leveza do silêncio para então dar vazão ao que castramos em nós mesmos com o tempo. O título original ao pé da letra é: "A Soma de Todas as Minhas Partes" (Die Summe Meiner Einzelnen Teile).
Quem é o louco afinal? Aquele que se deixa levar pela onda caótica da rotina, cujo único pensamento é gerar dinheiro para sobreviver, ou aquele que se abstém de tudo isso? Por que quando alguém não deseja fazer parte simplesmente por não se encaixar é taxado como louco? Martin percebe o quão ordinária a sociedade pode ser, principalmente na questão do tratamento de sua saúde mental, o aprisionando e o dopando, sendo que isso não o ajudará de fato. A história segue em ritmo lento e acompanhamos a decadência do personagem, é emocionante toda a sua trajetória.
Martin (Peter Schneider) é um talentoso matemático com uma carreira promissora, mas devido a uma internação em uma clínica psiquiátrica é visto como doente mental, ele perde o emprego e termina vivendo como um mendigo. Algo muda quando conhece Viktor (Timur Massold), um garoto ucraniano que perdeu sua mãe por uma overdose. Ambos solitários e deslocados decidem fugir do barulho da cidade e vão para a floresta, lá a ideia de construir uma cabana parece o começo de uma nova vida. Eles se tornam muito amigos. Não há quase diálogos porque Martin não fala a língua do garoto, o que torna as situações bem contemplativas.
A "loucura" de Martin é libertadora e em meio a natureza consegue acalmar sua mente, percebe-se que quando andava pelas ruas da cidade ele era inquieto e contava sem parar, as cenas em que começa a se integrar no local, subindo em árvores, respirando ar fresco é as das mais bonitas, é como se estivesse se encontrando, é a naturalidade de ser.
Outra personagem que sofre a angústia e a pressão de se tornar um alguém é Lena, que trabalha como assistente de dentista, Martin se apaixona por ela e a encoraja a viver de forma idílica também. Os problemas de Martin vem desde a infância, seu pai o maltratava, mas não sabemos mais que isso, o filme deseja expor o quanto o ser humano é sugado e pressionado, chega um ponto em que não se aguenta mais, no caso do protagonista, assim como de tantas outras pessoas exige-se tratamento a base de remédios para poder seguir em frente, Martin foi internado, trancafiado em uma clínica, o que só fez piorar sua situação, após sua saída não conseguiu mais se estabelecer segundo os padrões sociais.
Martin é descartado e isso revolta, pois é como se fosse apenas uma peça nas engrenagens do sistema. Em dado momento desesperado vai até a casa do cara que certa vez o atropelou, ele pega o dinheiro e o carro a fim de conseguir fugir com Lena e Viktor para Portugal, onde existe uma comunidade alternativa. Esse roubo faz com que Martin seja procurado tanto pelos médicos que o trataram, como pela polícia. Em nenhum momento o julgamos, na verdade o que surge é identificação.
Dirigido por Hans Weingartner que assim como fez em "Edukators" (2004) critica o capitalismo e a sociedade que exclui o que incomoda e julga desnecessário, gerando desigualdades e provocando revolta, tristeza e desesperança.
O longa não poupa e coloca em xeque as clínicas que tratam as pessoas que sofrem de algum distúrbio mental, aprisionar e dopar não vai curar ninguém, isso é violência e só faz tirar a realidade deixando de ser quem se é aos poucos.
O filme causa tristeza, para os seres mais pensantes é desesperador, difícil ter que viver em função de algo que não lhe é prazeroso, e o pior é saber que não há escolha, ou você faz parte, ou é excluído e taxado como louco, entre outras coisas.
Viktor na verdade é Martin quando criança, ele o resgata e salva a figura do menino que ainda podia sonhar. Na floresta ele junta todas as suas partes e consegue aliviar suas angústias, e de fato ser livre. Porém, o final nos aprisiona junto com o personagem, é torturante ver que não há escapatória.
"A Cabana" é um filme profundo, poético, silencioso, reflexivo, além de ter uma trilha sonora bem bonita e um personagem para se guardar na memória.
"O medo não é uma droga. O medo é desnecessário. É supérfluo. Você não precisa dele."
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