terça-feira, 13 de maio de 2014
O Homem Duplicado (Enemy)
"Enemy" (2013) adaptado do livro "O Homem Duplicado" de José Saramago e dirigido por Denis Villeneuve (Os Suspeitos - 2013), é um filme de difícil absorção e compreensão, mas que é muito válido, já que retrata a complexidade do nosso eu mais profundo.
A história segue Adam (Jake Gyllenhaal), um solitário professor de História que leva uma vida monótona, apesar de manter um relacionamento com Mary (Mélanie Laurent). No início vemos uma cena em que ele explica a seus alunos sobre os padrões cíclicos, e é em cima da frase: "O caos é uma ordem ainda indecifrável", que o filme se desenrola.
Adam ao conversar com um colega resolve aceitar a indicação de um filme, e ao assisti-lo percebe algo muito perturbador, um dos figurantes é idêntico a ele. Estupefato volta e pausa bem no rosto do ator. Depois dessa estranha constatação, ele entra em paranoia e começa a procurar o nome de todos os figurantes até encontrar o de seu sósia, e então sua vida se resume a querer encontrá-lo. Após descobrir que existe um alguém igual a ele, seu mundo vira de ponta cabeça. Adam tenta entrar em contato com seu sósia, e depois de várias tentativas se encontram em um hotel às escondidas, papo vai, papo vem, inicia-se um jogo de interesses entre eles, em que cada um quer aproveitar um pouco da vida do outro.
O clima do filme é angustiante, a todo momento parece que acontecerá algo inesperado, é um suspense psicológico extremo, faz nossa cabeça pensar em todas as possibilidades, tentar achar respostas das quais o filme não tem pretensão nenhuma de apresentar. O final acontece e ficamos com cara de tacho, sem entender nada mesmo. Várias metáforas visuais se dão, por exemplo, a aranha.
É impossível explicar o contexto da obra, o filme não dá respostas, mas apenas metáforas. A perda de identidade em uma sociedade individualista é o grande ponto, o perder-se de si mesmo e querer ser outros. Mas esta explicação é deveras muito simples, é algo mais complexo e exige uma absorção profunda diante a tantos simbolismos.
É necessário conhecer a obra de José Saramago para poder ter alguma compreensão. O filme se propõe a colocar ideias e nos fazer refletir, principalmente sobre o que há dentro do nosso eu, a tamanha complexidade que ali existe. Diante a tantas influências, pessoas, regras, não se sabe exatamente o que se é na essência, perde-se um bom tanto de si pelo caminho. Outra coisa que acontece é achar que a vida dos demais é perfeita, e assim querer vivê-la. É o caos tomando conta. Por mais que seja incompreensível, é um filme que vale a pena por expor esses conceitos e colocar nossa mente para funcionar. É um baita suspense que envolve o drama em sua teia.
"O Homem duplicado" tem uma direção impecável, a fotografia escura só enfatiza a angústia e o sufocamento, a trilha sonora também compõe perfeitamente deixando o tom do filme pesado. O fato é que estamos acostumados a conclusões e quando isso não acontece ficamos frustrados, por vezes as perguntas são mais importantes do que as respostas, e não adianta tentar achar significados, querer encaixar as metáforas, afinal é sobre o caos que o filme disserta.
É um suspense com um quê de filosofia, o que você faria se encontrasse com seu duplo? Aquele que se difere do apresentado aos outros. Todos temos esse lado, e geralmente o escondemos com medo de mostrá-lo, mas a curiosidade sobre tal existe e uma hora ou outra nos deparamos com ele.
Trecho do livro: "Olharam-se em silêncio, conscientes da total inutilidade de qualquer palavra que proferissem, presas de um sentimento confuso de humilhação e perda que arredava o assombroso que seria a manifestação natural, como se a chocante conformidade de um tivesse roubado alguma coisa à identidade do outro."
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