quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
Paraíso: Esperança (Paradies: Hoffnung)
"Paraíso: Esperança" (2013) é o último filme da trilogia de Ulrich Seidl, que iniciou com "Paraíso: Amor" e em seguida "Paraíso: Fé". A história de Melanie é mais branda, a adolescente de 13 anos passa pelo período das descobertas, portanto ainda carrega a inocência em relação a paixão. A garota é mandada para passar férias em um acampamento especial para jovens com sobrepeso. Entre treinamentos físicos e nutricionais, ela acaba se apaixonando pelo seu médico, um homem 40 anos mais velho. Ao não ser correspondida, sua depressão por se achar repugnante aumenta. Melanie é filha de Teresa, a mulher que foi se aventurar no Quênia, por causa desta viagem é deixada aos cuidados da tia Ana Maria, a fanática religiosa, protagonista do segundo filme. O último se inicia com a tia levando a menina para o acampamento de gordinhos, lá ela conhece outras garotas e conversa sobre sexo, paixão e amor. Dá para perceber o quanto ela é inibida e pura. É o drama de adolescentes que se sentem excluídos da sociedade que exalta o corpo perfeito, e mais ainda sobre solidão, pois é nítido que os pais não ligam para seus filhos, simplesmente os colocam lá a fim de não terem responsabilidades.
Melanie é carente, nesta história os pais são muito ausentes, os adolescentes no acampamento estão à mercê de seus sentimentos, que nesta fase são demasiadamente confusos. O médico dá atenção para a menina, ele conversa, brinca, e com isso ela se apaixona. Em meio a um ambiente rígido ela vê nesse homem um pouco do carinho que precisa. Ele percebe que a garota dá em cima dele, todos os dias se arruma e vai ao consultório. Claro que o código de ética proíbe tal coisa, ficamos indecisos sobre o que o médico sente, mas a cena em que ele resgata Melanie bêbada e a lambe no meio do matagal comprova suas intenções. Só que depois ele prefere se distanciar, e com isso ela se entristece e se inferioriza mais ainda. Um dos pontos mais legais do filme são as conversas entre essas adolescentes no quarto, há uma realidade explícita nestes diálogos.
Os filmes de Ulrich Seidl tem características bem marcantes, como a câmera estática enfatizando a história de maneira direta e crua. "Paraíso: Esperança" é mais ameno, não tem cenas chocantes, não há um final concreto mas passa a mensagem perfeitamente. Esse recurso utilizado pelo diretor faz com que embarquemos na história, mas de maneira distanciada, o que é bom, pois torna o filme totalmente despretensioso.
Indico fortemente a trilogia "Paraíso" de Ulrich Seidl, mesmo com a narrativa não convencional e longos planos estáticos, todas essas peculiaridades só somam com o contexto todo. Há um jeito único no cinema deste diretor, o modo que coloca o corpo em evidência, os sentimentos e os desejos não realizados. Todas as mulheres retratadas almejam o paraíso, mas nessa busca acabam encontrando apenas o inferno, o último, assim como o título sugere, há esperança. Melanie é uma garota que tem muito o que aprender e muito ainda por amar.
Estamos acostumados a ver no cinema pessoas perfeitas, tudo muito exuberante e maravilhoso, o corpo nos filmes de Ulrich são expostos como são, e é engraçado, pois o público comum é visto como algo estranho para o espectador. A ditadura da beleza exclui as pessoas, as fazem crer que são feias e que ninguém vai gostar delas da forma que são. O acampamento que Melanie está indica o quanto isto é ridículo, a cena em que eles cantam a musiquinha "If you're happy and you Know it, clap your fat!", exemplifica. Por fim, vale exaltar a coragem de Ulrich Seidl em retratar aspectos controversos da sociedade.
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