quinta-feira, 28 de novembro de 2013
Pieta
"Pieta" (2012) dirigido pelo mestre Kim Ki-Duk faz alusão à escultura mais conhecida de Michelangelo, onde Jesus morto está nos braços da Virgem Maria. O diretor, conhecido por seus filmes em que o silêncio é o grande protagonista, nos traz dessa vez uma história cruel, de vingança, em que o filho é o alvo principal.
Gang-Do é um jovem solitário e que vive uma rotina violenta, trabalha para agiotas, onde é designado a deixar as pessoas que emprestaram dinheiro e não pagaram aleijadas, é conhecido como "açougueiro". O resto de seu dia é marcado por sujeira, comida e masturbação. Até que do nada aparece uma mulher que diz ser sua mãe, essa senhora passa a segui-lo, apesar de ser agressivo no início, sua carência maternal acaba falando mais alto, aos poucos afeiçoa-se, e ela acaba fazendo parte de seu dia a dia. A vingança passa a atormentá-lo, pois agora tem com quem se preocupar, as atrocidades que comete com os outros passa a ser pensadas, e o receio de que se vinguem de sua mãe aparece. Só que na verdade, a vingança parte da mãe dele, em fazê-lo se apegar a ela, a se importar, para no fim fazê-lo sentir dor. É o processo de humanização do personagem. A mãe guarda um segredo e uma dor infindável, da qual só será sanada se concretizar sua vingança. Ela o faz sentir carinho, a protegê-la, para depois tirar da forma mais cruel e dessa maneira ele cai na real de seus atos e se torna "humano", seus sentimentos são resgatados, e a dor traz a sua redenção. Só que conviver com a dor talvez seja algo impossível para Gang-Do.
É um filme que induz a sentimentos fortes, o protagonista que no início esbanja frieza e distanciamento, acaba exibindo seu ponto fraco, pois sozinho não tinha aonde depositar seus desejos e sentimentos, quando a mulher que diz ser sua mãe aparece, conquista-o justamente neste ponto, que sempre foi um vazio em sua vida, e desta forma ela o preenche, e agora ele consegue sentir e expor amor. Ela faz com que ele cada vez mais sinta profundamente, pois a pancada final terá que ser certeira para que entre em si mesmo e perceba o mal que causou não só a ela, mas as pessoas das quais ele tirou as possibilidades de uma vida melhor.
Kim Ki-Duk sempre coloca em pauta a redenção, o ser humano reintegrando-se, buscando a si mesmo, em seus filmes anteriores o silêncio é o ponto forte e esbanjam poesia, diferente deste que não poupa violência física e psicológica. É cruel e dolorido.
Seus filmes merecem ser vistos, tira-se grandes mensagens e entendimentos, ele coloca à prova grandes questões que permeiam a nossa vida. "Pieta" não é agradável, mas a podridão humana existe e não pode ser escondida, a vingança é tratada da forma mais amarga possível.
A câmera foca na dor exprimida tanto na mãe como de Gang-Do, suas frustrações e carências são marcadas por expressões bem delineadas. O processo de vingança traz mudanças inacreditáveis nele, e a decisão tomada se faz crucial.
Há também a crítica ao capitalismo extremo, e que o dinheiro é o principal valor na vida de um ser humano, onde ele dita as regras sem se importar quais serão as consequências. E se impõe sobre valores e sentimentos.
"Pieta" tem recebido duras críticas, chamado de filme pretensioso, e que Kim Ki-Duk talvez tenha errado a mão. Não é o seu melhor filme, talvez eu ainda continue preferindo seus longas sensoriais em que o silêncio diz muito, mas "Pieta" não passa despercebido e tão pouco é ruim, é uma obra que merece respeito, mesmo não agradando a todos.
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