quinta-feira, 10 de outubro de 2013

O Castelo (Das Schloß)

Dirigido por Michael Haneke (Tempos de Lobo - 2003), é uma adaptação do livro homônimo e inacabado de Franz Kafka. É um filme ignorado dentro da filmografia do diretor, já que no mesmo ano foi lançado "Violência Gratuita", é imensamente válido para quem gosta tanto do universo Kafkiano, quanto Hanekiano.
A história segue K. (Ulrich Mühe), um agrimensor enviado a um vilarejo (de localização indefinida) a trabalho. Lá, descobre a existência de um castelo misterioso, ao qual apenas alguns privilegiados têm acesso. Ele decide conhecer o lugar a todo custo, mas logo percebe que a tarefa não será fácil, uma situação inusitada se sucede, Klamm, seu possível chefe não permite contato. Sem sucesso, através do mensageiro Barrabás tenta marcar uma conversa com Klamm, então desesperado tenta ir ao castelo, mas ele nunca chega, mesmo vendo pessoas indo e vindo de lá, é inalcançável. Dessa maneira vê em Frieda, funcionária da hospedaria, uma oportunidade, já que ela é amante de Klamm e tem bastante prestígio na comunidade por isso. Nesta parte é difícil formar uma opinião a respeito dos sentimentos de K. por Frieda.
Mais tarde K. encontra-se com o prefeito, que habilmente desmerece seu serviço, dizendo que não há e nunca houve necessidade de um agrimensor naquelas terras. A parte burocrática da história explode, papéis e mais papéis saltam do armário, uma situação que chega a ser cômica, graças aos ajudantes de K.
Nesta conversa com o prefeito, ele acaba aceitando trabalhar como servente da escola da comunidade, inclusive podendo permanecer nas dependências com Frieda e seus dois ajudantes. Em busca de respostas para o que está acontecendo se depara com Olga, irmã de Barrabás, o mensageiro, e durante uma longa conversa põe em dúvida o poder de Klamm e dos funcionários do castelo. Nesta altura se desenvolve uma ampla rede de interesses e hierarquias do poder.
A impossibilidade de chegar ao castelo é expressada perfeitamente, nenhuma das pessoas que encontra fornece informação como ter acesso a ele, a barreira burocrática que se ergue é o maior obstáculo, então tenta estabelecer contato com os funcionários, mas em vão. Nessa busca K. mergulha em um pesadelo do qual o deixa confuso e sem saída. A incomunicação, a burocracia, os interesses, tudo isso é levado ao absurdo.
As dúvidas lançadas chegam a doer nossa cabeça, a escrita de Kafka foi transposta maravilhosamente bem para a tela, nada faz sentido e ao mesmo tempo há múltiplas possibilidades, a visão pessimista também está presente.

"O Castelo" reflete a relação do cidadão e sua sociedade, e principalmente, discute a respeito de sua aceitação social. É um filme confuso que por oras beira o surreal, assim como o livro.
A narração em off contendo trechos integrais se funde com as imagens representadas. A ironia, a comicidade em alguns elementos, o tom misterioso e a densidade se dá de maneira magnífica.
Como o próprio Kafka escreveu: "Um livro deve ser o machado que quebra o mar gelado em nós", tudo o que causa essa sensação adiciona algo, rompe barreiras e nos leva ao autoconhecimento, obras desse nível deveriam ser obrigatórias a qualquer ser humano.

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