"November" (2017) escrito e dirigido pelo estoniano Rainer Sarnet (Idioot - 2011) é baseado no livro "Rehepapp Ehk November", de Andrus Kivirähk, completamente fiel ao folclore da Estônia retrata lendas e tradições que acabam demonstrando o pior do ser humano, num ambiente desolado e falido acompanhamos a rotina de alguns camponeses que fazem pacto com o demônio e pedem auxílio dos espíritos, a corrupção faz parte da vida de todos e o horror faz com que percam sentimentos nobres. Um filme estranhamente atraente e poético.
A história é ambientada em uma aldeia pagã estoniana onde lobisomens, a peste e espíritos vagam. O problema principal dos aldeões é como sobreviver ao inverno frio e escuro. E, para esse objetivo, nada é tabu. As pessoas roubam umas das outras, dos seus senhorios alemães, dos espíritos, do diabo e de Cristo. A personagem principal é uma jovem fazendeira chamada Liina, que está desesperada e apaixonada por um garoto da aldeia chamado Hans.
O horror retratado não advém especificamente das criaturas, mas sim da atmosfera pesada que circula nesse vilarejo, as atitudes dos habitantes que roubam uns dos outros, e que preguiçosos tentam enganar até o diabo ao levar groselhas em troca de um Kratt, que é feito a partir de utensílios domésticos, eles sempre precisam estar trabalhando, são escravos dos humanos, este que deveria dar o sangue, a alma em troca, pois os Kratts são almas roubadas. Na mitologia estoniana são descritos como uma criatura mágica criada por utensílios domésticos ou feno pelo seu mestre que então daria três gotas de sangue para o diabo trazer uma alma a ele. No livro de Andrus Kivirähk sugere que muitos usavam groselhas para enganá-lo e assim salvar suas vidas. O Kratt faz tudo que o mestre manda, trabalha, rouba e até voa para isso, caso o trabalho não surgisse ele se tornaria violento se revoltando contra seu dono, uma artimanha para se livrar de um Kratt, era sugerir um trabalho impossível de realizar e que de tanto tentar pegaria fogo ou se desmancharia. A maioria dos camponeses fabricam seus Kratts, que constantemente são vistos trabalhando em meio a floresta, os homens terminam folgados e vingativos, eliminando qualquer rastro de um bom sentimento para com o outro.
Em meio a um cenário gélido tanto pelo clima quanto pelo modo de se relacionarem há Liina (Rea Lest), que ama intensamente em segredo Hans (Jörgen Liik), que por sua vez ama a baronesa (Jette Loona Hermanis), Liina faz de tudo para que Hans a note e Hans faz de tudo para que a baronesa o ame, ambos desesperados utilizam feitiços, meios que talvez pudessem de alguma forma trazer o coração do amado para perto dos seus. O pai de Liina a prometeu em casamento para um velho do vilarejo, desnorteada ela tenta até matar a jovem baronesa, que todas as noites sobe até o telhado e quando está para cair sempre é salva por alguém, Hans recorre ao diabo e troca sua alma por um Kratt, dessa vez o diabo não se engana com as groselhas e dá vida a um Kratt que conta histórias de amor, alimentando ainda mais a sua paixão pela baronesa.
Em meio a um cenário gélido tanto pelo clima quanto pelo modo de se relacionarem há Liina (Rea Lest), que ama intensamente em segredo Hans (Jörgen Liik), que por sua vez ama a baronesa (Jette Loona Hermanis), Liina faz de tudo para que Hans a note e Hans faz de tudo para que a baronesa o ame, ambos desesperados utilizam feitiços, meios que talvez pudessem de alguma forma trazer o coração do amado para perto dos seus. O pai de Liina a prometeu em casamento para um velho do vilarejo, desnorteada ela tenta até matar a jovem baronesa, que todas as noites sobe até o telhado e quando está para cair sempre é salva por alguém, Hans recorre ao diabo e troca sua alma por um Kratt, dessa vez o diabo não se engana com as groselhas e dá vida a um Kratt que conta histórias de amor, alimentando ainda mais a sua paixão pela baronesa.
O filme é um primor não só em sua narrativa, o visual é um deslumbre, a fotografia em preto e branco, na maior parte do tempo prevalecendo um branco translúcido e a paisagem gelada com sua floresta densa hipnotiza e gera angústia, porém mesmo assim o humor está presente em variadas situações bizarras e nos maneirismos e nas incríveis performances físicas dos atores, o belo está continuamente de mãos dadas com o horror. Excepcional em todos os quesitos, como os ruídos da natureza, o vento e o fogo, ou o barulho das passadas na neve, roupas, mastigação, além da trilha fúnebre que anuncia o mal ou o sofrimento. O conto nos transporta para um mundo fantástico, habitado tanto por demônios, espíritos, bruxas, criaturas pagãs e Cristo, mas também conversa com o realismo ao expor o lado traiçoeiro, ganancioso e mesquinho do ser humano, e claro, a tragédia, um clássico das histórias de amor.
"Eu fecho os olhos e finjo que as palavras que ele diz a ela são para mim."
"November" é uma fábula fascinante e que não se detém a sentimentalismos ao retratar as lendas estonianas, expõe-se preconceito, miséria, angústias e corrupção, além de agradar aos olhos com seu visual estonteante. O humor nada convencional permeia muitas das cenas, citando uma delas, quando a peste chega ao vilarejo na forma de um bode e os habitantes tentam se desvencilhar enganando-a colocando as calças na cabeça, que pelo cheiro não saberia identificá-los, a peste volta depois sob a forma de um porco, realmente estranho, mas efetivo ao demonstrar os comportamentos das pessoas sempre agindo para de algum modo se beneficiarem. Para quem busca por filmes fora da caixinha é mais que indicado, há beleza, lirismo e crueza. Filmaço!