"Mary Shelley" (2017) dirigido por Haifaa Al-Mansour (O Sonho de Wadjda - 2012) é uma biografia delicada e fascinante sobre a precursora do gênero de ficção científica, a criadora do romance gótico Frankenstein. Apesar de não ter profundidade e peso a história consegue cativar por seus personagens interessantes e sua atmosfera literária.
A história do romance entre o poeta Percy Shelley (Douglas Booth) e Mary Wollstonecraft (Elle Fanning), uma jovem de 17 anos que viria a se tornar a aclamada escritora Mary Shelley, autora do livro "Frankenstein ou o Prometeu Moderno".
Mary Goldwin estava destinada às palavras, criada num ambiente intelectual e libertário, filha do filósofo William Godwin e da escritora e feminista Mary Wollstonecraft desenvolveu desde pequena paixão pela escrita, o pai a incentivava a encontrar sua própria voz e seu próprio estilo, e para isso a enviou para o campo, onde conheceu o poeta e seguidor de seu pai Percy Shelley, que mais tarde se tornaria seu marido, quando Percy e Mary se apaixonaram decidiram viver juntos mesmo Percy já sendo casado, seu espírito de amor livre gerou consequências dramáticas, inclusive o suicídio da sua primeira mulher, Mary viveu muitas tristezas e decepções e a partir delas criou sua obra-prima, todas as agruras, desde a perda do filho, as dívidas, o ostracismo, os altos e baixos do relacionamento contribuíram para sua evolução como escritora. E foi num verão tedioso e libidinoso em que passaram na casa de Lord Byron que Mary começa a conceber a ideia de seu romance, lá junto de sua meia-irmã Claire Clairmont, amante de Byron e o médico e escritor John William Polidori têm a ideia de cada um escrever uma história de fantasmas depois de lerem alguns contos de horror. Assim nasce uma poderosa história de horror sobre abandono, uma novidade na época ainda mais para uma mulher, a história foi recusada por inúmeras editoras, não acreditavam que tinha sido ela a autora, uma moça de aparência delicada ter colocado tais palavras sombrias e tristes no papel, então como última alternativa aceitou que o livro fosse publicado anonimamente com o prefácio de seu marido, o que gerou grande interesse dos leitores, mais tarde seu pai descobriu a verdade e conseguiu fazer uma nova remessa colocando o nome de Mary, as outras obras concebidas a partir do jogo na casa de Byron também geraram polêmicas, Polidori criou a primeira história de vampiro inglesa, "O Vampiro", mas foi publicada e creditada a Byron, foi um enorme sucesso e mais tarde Byron viria refutar a autoria, o vampiro descrito por Polidori era um ataque ao amigo, afetado, arrogante, mas que também sabia ser sedutor. Já as outras não tiveram tanta fama, Percy Shelley redigiu "Fragmento de uma História de Fantasma" e a verdadeira história de Byron tão pouco viria a ser comentada, esse verão em que ficaram presos na mansão de Byron por conta de uma tempestade foi cenário de muito ócio e de elucubrações, Mary era uma ouvinte silenciosa e tinha curiosidade na ciência, nas teorias de Darwin e por isso se aproximou bastante de Polidori, a concepção de "Frankenstein" foi uma junção de todos os seus sentimentos e seus interesses.
No filme o relacionamento de Percy e Mary é retratado com muito romantismo, Percy tinha ideias de amor livre e acreditava que por Mary ter sido criada em meio a ideias liberais também nutria esse desejo, porém ela queria somente Percy e sua paixão era demasiada forte, sofreu muitas desventuras e decepções, a vida dos dois foi marcada por perdas, infidelidades e dívidas, mas se amavam e se admiravam intensamente, além da paixão compartilhavam e se dedicavam ao amor à leitura e escrita.
A história destaca bastante os outros personagens e cria a curiosidade no espectador em querer saber mais sobre eles, um filme de cada um seria ótimo, Lord Byron, por exemplo, magnifico e repulsivo na pele de Douglas Booth, a animada e carente meia-irmã de Mary, vivida por Joanne Froggatt, que presenciou boa parte dos dissabores, assim como os vivenciou, principalmente ao engravidar de Byron.
"Mary Shelley" retrata a trajetória de Mary Shelley até sua criação mais famosa e que ainda continua sendo referência do horror gótico e ficção científica, e claro, uma crítica à arrogância e prepotência humana e cuja descrição da solidão e abandono são sentimentos que conseguem penetrar à alma.
É um filme de atmosfera romântica, o peso e a decadência são amenizadas, mas os elementos literários cativam e embelezam à obra, para quem quer conhecer mais da autora vivida por Elle Fanning e do fatídico verão na mansão de Byron até a publicação de um dos romances mais famosos e influentes, é um exemplar encantador e poético.
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