quinta-feira, 28 de abril de 2022

10 Filmes Agradáveis (Para Ver Quando o Coração Pesar)

Segue uma lista feita com carinho para os corações afogados, seja por qualquer motivo, eu mesma estou numa fase de não conseguir ver filmes com temas pesados e muito reflexivos, mas também isso não significa que as histórias precisam ser bobas e efêmeras. Os selecionados aqui servem para aquecer como um abraço, espairecer a mente, chorar sorrindo e despertar desejos.

10- "Prazer, Kalinda" (Bo We Mnie Jest Seks - 2022) Polônia

Kalina Jędrusik, a maior estrela da Polônia nos anos 60, está no auge da fama, mas precisa enfrentar um oficial desprezado que ameaça destruir sua carreira. Maria Dębska estrela a biografia musical de Katarzyna Klimkiewicz sobre a diva rebelde da Polônia dos anos 60 e 70. Um filme que retrata um ícone feminino da Polônia, uma mulher deslumbrante com uma personalidade livre, que resistiu ao machismo e ao assédio. Um filme que inspira o despertar de sentimentos de autonomia feminino.

09- "Dry Martina" (2018) Argentina/Chile

Martina (Antonella Costa) é uma ex-estrela pop que fez muito sucesso na Argentina durante os anos 90. Agora, sem fama ou qualquer tipo de relacionamento, ela não sabe que direção tomar na vida. Mas a chegada de uma irmã desaparecida com um namorado atraente chama a atenção de Martina e mexe em seu desejo adormecido. Um filme leve que se dobra a sua protagonista decadente, mas com anseios e intenções intensas, as relações que se formam durante a história só provam a sua necessidade de calor humano, um filme que vibra na feminilidade e desejos, sobretudo a afabilidade.

08- "Elvira - Te Daria Minha Vida, mas a Estou Usando" (Elvira - Te Daría Mi Vida, pero la Estoy Usando - 2014) México

Uma noite, Gustavo (Carlos Bardem), marido de Elvira (Cecilia Suárez), sai para comprar cigarros e nunca retorna. Elvira, 40 anos, mãe de dois filhos, começa uma busca incessante pelo amor de sua vida. As pistas a leva à conclusão de que seu marido manteve um relacionamento secreto. A infeliz descoberta não a impede de seguir tentando encontrar seu marido. Uma dramédia bastante agradável mesmo que bandeando para um lado mais ácido da comédia, foge do estilo convencional do gênero e traz vigor e frescor para alguns clichês muito bem utilizados, os aprimora e dosa com muita perspicácia o desespero, a fluidez e a transformação da protagonista.

07- "Granizo" (2022) Argentina

Miguel Flores é um famoso meteorologista que é tão famoso que tem seu próprio programa de televisão que é conhecido por nunca errar a previsão do tempo no país. Tendo estudado na disciplina por seis anos e, trabalhando na área há anos, se Miguel garante, deve acontecer do jeito que ele previu. Um filme para amainar a vida, cheio de conflitos que se desenrolam de maneira eficaz e deliciosa, um protagonista carismático que com bom humor norteia várias nuances da vida.

06- "O Confeiteiro" (The Cakemaker - 2017) Alemanha/Israel

Thomas (Tim Kalkhof) é um alemão dono de uma confeitaria que viaja para Jerusalém em busca da esposa e filho de Oren (Roy Miller), seu amante morto. Ao chegar lá ele começa a trabalhar para a viúva de seu amante, que não tem ideia de que eles compartilham uma tristeza sem nome sobre o mesmo homem.
Um filme bonito e corajoso ao demonstrar que o amor não possui barreiras, etiquetas e rótulos, acontece sem que possamos ter controle e de forma inesperada. A experiência do luto, do desespero silencioso da solidão desencadeou no personagem uma busca, tudo isso ricamente explorado em diversas camadas emocionais. É um filme de observação, há olhares que revelam, como o da mãe de Oren em diversas cenas, e tão mais importante, o toque, as mãos aquecendo a massa, a paixão empregada por Thomas na confecção de seus bolos, são momentos de puro deleite.

05- "Hanami - Cerejeiras em Flor" (Kirschblüten: Hanami - 2008) Alemanha

Rudi Angermeier (Elmar Wepper) e Trudi Angermeier (Hanellore Elsner) é um lindo casal da terceira idade que leva uma vida rotineira e tranquila. Porém, ao receber a notícia de que seu marido está com uma doença que lhe dá poucos meses de vida, os médicos aconselham a Trudi que tenha cuidado ao contar sobre a enfermidade e sugere que o casal aproveite os últimos momentos para viajar ou realizar alguns de seus sonhos. Sem contar ao marido da doença, Trudi o convence a saírem do interior da Alemanha e irem a Berlim visitarem os filhos. Sem tempo para os pais, o casal vê o quanto eles se transformaram a ponto de considerar a breve visita um verdadeiro incômodo. A situação se agrava quando, ironicamente, Trudi morre, deixando seu marido sozinho em meio ao desprezo dos filhos. Ao voltar para sua cidade, Rudi decide se aprofundar nos pertences de sua mulher, e assim descobre que a vida toda ela alimentou o sonho de conhecer o Monte Fuji, no Japão.

04- "Ninguém Sabe que Estou Aqui" (Nadie Sabe que Estoy Aquí - 2020) Chile

Memo (Jorge Garcia), mora em uma remota fazenda de ovelhas no Chile e esconde sua linda voz do mundo. Traumatizado por acontecimentos do passado, ele vive de maneira solitária, até que uma mulher lhe oferece a chance de encontrar a paz que tanto procura. Belíssimo filme que mexe bastante com nossa sensibilidade, contém cenas poéticas e memoráveis, além da interpretação visceral de maneira contida de Jorge Garcia. Um filme extremamente bonito que enche o coração de emoção.

 03- "A Incrível Jornada de Jacqueline" (La Vache - 2016) França

Fatah (Fatsah Bouyahmed), um pequeno fazendeiro argelino, só tem olhos para sua vaca Jacqueline, que ele sonha em ver na grande feira de Agricultura, realizada em Paris. Determinado a levar a vaca até lá, ele a carrega consigo e cruza a França a pé, após pegar um barco para Marselha. No caminho, Fatah e Jacqueline viverão uma inesperada viagem cheia de surpresas e aventuras.
Um filme divertido, afável e leve, aborda com sutileza um argelino que tem o sonho de expor sua amada vaca Jacqueline em uma feira agrícola em Paris, e para isso recebe ajuda de sua aldeia para a viagem e atravessa Paris a pé encontrando pessoas das quais tornam a sua jornada ainda mais significativa e intensa. O tom cômico atenua os temas tratados dentro da trama, o que dá um ar de fábula humanista cheia de poesia e delicadeza, acompanhar Fatah em sua caminhada faz bem ao coração e torcemos muito por ele e sua querida vaca Jacqueline.

 
02- "A Costureira dos Sonhos" (Sir - 2018) Índia

Ratna (Tillotama Shome) trabalha como empregada doméstica para Ashwin (Vivek Gomber), um homem rico que parece ter tudo, porém vive desesperançoso e perdido pela vida. Enquanto isso, Ratna, que parece ter nada, vive a vida determinada a alcançar seus sonhos. Um filme indiano agridoce que retrata os entraves da cultura para uma mulher que corre atrás de seus desejos e sonha em se tornar pelo menos um pouco livre, o roteiro é leve, inteligente e não cai em clichês, tudo acontece de forma progressiva e assim nos dá tempo para conhecer cada personagem e entendê-los, um olhar feminino sobre a Índia contemporânea e as fortes e corajosas mulheres que se arriscam na cidade grande mesmo tendo dificuldades por conta da origem e posição social. Encanta pela beleza das cores, dos sentimentos que se misturam e, principalmente, pela fascinante interpretação de Tillotama Shome.

01- "Café com Canela" (2017) Brasil

Margarida (Valdinéia Soriano) vive em São Félix, isolada pela dor da perda do filho. Violeta (Aline Brunne) segue a vida em Cachoeira, entre adversidades do dia a dia e traumas do passado. Quando Violeta reencontra Margarida inicia-se um processo de transformação, marcado por visitas, faxinas e cafés com canela, capazes de despertar novos amigos e antigos amores.
Apesar de refletir sobre a ausência e a solidão que o luto causa traz boas doses de humor e afeto, a transformação por meio do amor, do como a cura de uma dor pode acontecer através de um olhar, palavras e ações ternas e, justamente por isso, se faz um filme imprescindível, já que as relações no cotidiano estão cada vez mais frias e cresce a falta de empatia, ele tem a capacidade de resgatar sentimentos inertes, como a gentileza, e demonstrar que xícaras de café podem conter abraços aconchegantes e transformadores.

quarta-feira, 13 de abril de 2022

As Vidas Secretas da Família Uysal (Uysallar)

"As Vidas Secretas da Família Uysal" (2022) dirigido por Onur Saylak é uma minissérie turca espetacular disponível no catálogo da Netflix, uma história repleta de camadas que vai desnudando os personagens pouco a pouco, que provoca o espectador fazendo oscilar nossos sentimentos diante às ações de cada um. Com 8 episódios acompanhamos a família Uysal, que passa por uma crise, todos sem exceção têm suas perturbações e estão à beira de um colapso. Oktay (Öner Erkan) é um arquiteto de 44 anos que se vê sufocado com a rotina, emprego e família, não suporta mais viver desse jeito e resolve escrever uma carta se despedindo, mas acaba que ele desiste e a esconde. No seu íntimo vive uma chama esquecida e a partir de uma visita que faz a sua antiga cidade decide reviver seu "verdadeiro" eu, e então uma vida dupla se inicia, de dia enfrenta os percalços do trabalho e seu chefe instável, Berhudar (Haluk Bilginer), tentando projetar uma prisão que nunca sai, e a noite coloca sua jaqueta cheia de spikes com a escrita "amante do caos" e seu enorme moicano colorido. Mas não é só Oktay que está enfrentando uma crise, sua esposa Nil (Songül Öden) que quer retornar ao mercado de trabalho não consegue por ser considerada velha e isso só faz aumentar sua obsessão com a aparência e sua ânsia por procedimentos estéticos, além de que se infiltra numa teia de mentiras que acarretará uma consequência inesperada. Os filhos também estão perdidos, o adolescente Ege (Umut Yesildag) que claramente possui traços psicopatas e a pequena Ece (Nilay Yeral), uma menina inteligente que não tem nenhuma atenção e que busca um pouco disso numa vizinha. Há também Olcay (Ugur Yucel), o pai tóxico de Oktay. A cada episódio o enredo nos arremessa diante das atitudes desses personagens que estão infelizes mesmo tendo uma condição financeira elevada, a distância só faz esses segredos se tornarem cada vez mais fortes e os sentimentos perante eles mudam a cada instante, ora sentimos empatia, ora asco, a complexidade e o caráter reflexivo dá um ar beirando o perturbador, pois são inúmeras as questões que surgem, como por exemplo, a hipocrisia, o egoísmo, o machismo, a indiferença, a máscara social, e com o passar dos episódios Oktay vai se tornando uma chacota, isso se concretiza ao final quando o amigo expõe a sua mediocridade e hipocrisia, que aquela fantasia nada tem a ver com ser punk, as relações que ele formou com os três desabrigados, esses sim lutando contra o sistema só aumenta as características de uma pessoa entediada e covarde.

Só elogios para essa minissérie que potencializa seu roteiro a cada episódio, que tem uma trilha sonora pontual, atores excepcionais e uma forma de filmar muito original, além dos cenários ao ar livre serem deslumbrantes. Não há desperdício de falas, de cenas, tudo tem uma função que ao final se integra perfeitamente. Esses são alguns pontos positivos apenas, pois a narrativa ainda contém altas doses de sarcasmo e críticas, como o machismo nas empresas denunciando casos de abuso e estupro, o encobrimento da mídia acerca da neblina que toma o país, mas que serve de metáfora para as vidas que são mascaradas diante a sociedade. O peso dessas situações são amenizadas com esperteza, mas não deixa de causar desconforto.
 
"As Vidas Secretas da Família Uysal" é uma minissérie que merece o reconhecimento, bem feita e que foge das produções turcas que se assemelham a dramalhões novelescos e que usam de artifícios básicos e comuns para fisgar o espectador, vale destacar o roteirista Hakan Gunday, que tem outras séries maravilhosas em seu currículo, como "Assassino sem Passado" e "Şahsiyet". Enfim, ainda vale enaltecer o trabalho dos atores e, principalmente, de Haluk Bilginer, como Berhudar, que compôs um personagem cheio de camadas que com o tempo só piorava. Sensacional!