"Drei" (três em alemão) conta sobre Hanna e Simon, um casal de meia idade que vive junto em Berlim. Sem querer os dois se envolvem com o mesmo homem sem que o outro saiba. Tom Tykwer (Perfume - 2006) nos traz a história do engenheiro de arte Simon (Sebastian Schipper), que acaba de perder a mãe para um câncer e que logo depois, descobre que também tem um tumor e precisa operá-lo imediatamente para a retirada de um testículo. Hanna (Sophie Rois) vive com Simon há 20 anos e acaba se envolvendo com outro homem, Adam (Devid Striesow), um cientista que conhece em um debate sobre bioética. Simon acaba por conhecer Adam também em um clube de natação, e fica muito confuso com os seus sentimentos, e questiona sobre sua sexualidade. Os encontros esporádicos e puramente sexuais de Adam com Hanna e Simon tornam-se mais frequentes e termina surgindo afeto e amor, e para complicar ainda mais as coisas, Hanna descobre que está grávida e não sabe quem é o pai. A culpa que Simon e Hanna sentem começa a dominá-los. A personalidade dos três se complementam nas diferenças, enquanto Hanna é extrovertida, Simon é introspectivo, já Adam é um homem aberto para novas experiências, atraente e culto.
O filme traz à tona um novo modelo de relacionamento, mais dinâmico e eficaz para que um casamento não se desgaste. Com um ótimo roteiro, o desenvolvimento dos personagens é agradável, e a maneira como tudo acontece soa natural. Algumas cenas são estranhas, como a aparição da mãe de Simon como um anjo, ou como aquela em preto e branco que mostra Simon caminhando atrás de uma carruagem. São imagens simbólicas que não seguem a linha da narrativa.
No entanto, tomando uma decisão bastante arriscada, o diretor acerta em cheio ao mudar o tom do filme quase no final, passando do melodrama à comédia de modo equilibrado, assim representando a positiva mudança na vida de Adam, Hanna e Simon. Sophie Rois no papel de Hanna é uma mulher de fortes opiniões, mas também é uma pessoa egoísta e desagradável. Adam aparenta ser um sujeito tranquilo e bem resolvido, mas com um sutil vazio interior. O filme evidencia em Simon e Adam o quão natural é a pluralidade sexual humana, mas os clichês sobre homossexualidade e bissexualidade passam longe. A terceira pessoa entra não para destruir o casal, mas sim, para dar um novo fôlego a algo que estava desmoronando. E o final mostra claramente isso.
O filme se desenvolve de forma bem suave e vai nos apresentando os personagens aos poucos, na verdade, o que importa não são os dramas de cada um, e sim, o relacionamento que se constrói entre eles. É mostrado todo o sentimento e o prazer que envolve cada um. O casal que no início estava distante, sem ritmo, quando se envolvem com Adam, lembrando que tanto um como o outro não sabia dessa relação, os dois acabam por se aproximar e retornam a se amar e sentir tesão um pelo outro.
O número três equivale a uma complementação, infelizmente o filme não desenvolve bem esses simbolismos, como a questão das células-tronco que permeia as cenas iniciais, inclusive o último plano termina dando alusão a isso, ou o simbolismo do número três, que é o título original e que é mostrado na hora em que a mãe de Simon morre, e o número começa a aparecer frequentemente. Nenhum dos três são iguais, mas são complementares, semelhantes e importantes. São três pessoas que se amam. Um amor livre de convenções, que aliás ao final das contas não servem de nada, porque cada um tem a sua própria maneira de amar e expor esse sentimento, não há classificações, simplesmente amam-se. O filme nos lembra o quanto somos amplos e que sempre estamos nos redescobrindo e aprendendo com nós mesmos.
O longa tem uma linguagem interessante e moderna, algumas cenas são tensas, como a que Hanna descobre que seu marido está se envolvendo com o mesmo homem que ela. A mudança vem no momento em que Hanna engravida. E a dúvida de quem é o pai surge. Adam ou Simon? Neste momento é Hanna quem deve decidir qual caminho deve trilhar, qual destes homens manter ao seu lado, ou nenhum deles, ou ambos. O que ela decide, de fato é transgressor e explora todas as formas de amar. Que aliás, vão muito além das convenções criadas.