"A escolha é do indivíduo e ninguém tem o direito de impor o que você é, tendo horas de vida ou 80 anos de idade."
O filme de Lucia Puenzo (O Médico Alemão - 2013) tem uma ideia interessante e considerada tabu, pois dificilmente vemos ser discutida a intersexualidade em nossa sociedade. Apesar da narrativa permanecer quase sempre no mesmo lugar faz com que pensemos na questão de gêneros.
Alex (Inés Efron) nasceu com ambas as características sexuais. Tentando fugir dos médicos que desejam corrigir a ambiguidade genital da criança, seus pais a levam para um vilarejo no Uruguai. Eles estão convencidos de que uma cirurgia deste tipo seria uma violência ao corpo de Alex e, com isso, vivem isolados numa casa nas dunas. Até que, um dia, a família recebe a visita de um casal de amigos, que leva consigo o filho adolescente. É quando Alex, que está com 15 anos, e o jovem 16, sentem-se atraídos um pelo outro.
O que o filme coloca em questão é o olhar preconceituoso das pessoas que a veem como uma aberração, mas no seu mundo interior Alex não quer escolher entre ser feminino ou masculino, até porque não há necessidade de rotular e definir. A opção do pai em decidir a não fazer a cirurgia e deixar que Alex escolhesse é o grande ponto do filme, é uma abertura da qual não estamos acostumados e por isso choca, mas quer amor maior do que dar a liberdade de escolha a quem se ama? E se este decidir permanecer do jeito que é, que assim seja!
O fato é que a sociedade não sabe lidar com o diferente, aquele que foge dos padrões, a decisão do pai em afastar e deixar Alex livre das opiniões e olhares foi incrível, pois deu a ela uma melhor maneira de se conhecer, ainda mais na fase da adolescência em que os hormônios borbulham. O filme não é conclusivo, mas foi muito acertado ao colocar em pauta um tema tão complexo. É para pensar e rever conceitos!
Marthe, Michel e seus três filhos moram tranquilamente em uma casa isolada no meio do nada, em frente à qual uma larga estrada permanece vazia, fechada desde sua construção. No início do verão, ela é finalmente inaugurada. A família tenta manter sua rotina, mesmo com o estresse causado pelo barulho incessante de centenas de carros. Mas os efeitos a longo prazo do incômodo com a constante perturbação instauram um clima crescente de tensão familiar. Ainda assim, eles se recusam a deixar o lar construído com tanta dedicação.
Dirigido por Ursula Meier (Minha Irmã - 2012), "O Lar" é um filme rico em significados, apesar de monótono, mas é para se analisar as situações que vão ocorrendo, o pouco de sossego que nós temos no nosso cotidiano é um dos pontos. O porquê da família ter se mudado em um lugar isolado não é explicado, mas fica óbvio que é por conta do estresse da cidade e a convivência forçada diária, isso é principalmente retratado na personagem de Isabelle Huppert. De início tudo está tranquilo, mas quando inauguram a rodovia que fica bem em frente à casa, as coisas vão se complicando, tanto no dia a dia que muda completamente, quanto ao estado físico e psicológico da família, porém mesmo com as dificuldades eles não se mudam, ficam e acabam vedando inteiramente a casa.
É um filme intrigante e com uma narrativa que beira o bizarro, na verdade é uma fábula contemporânea que diz: Não há para onde escapar das chatices da sociedade, sempre haverá algo para atrapalhar e nos afundar.
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