"Entre Realidades" (2020) dirigido por Jeff Baena (The Little Hours - 2017) é um filme que se encaixa na categoria de ame ou odeie, particularmente o encarei de forma séria e em vários momentos a tristeza foi inevitável, é preciso analisá-lo nas entrelinhas e por mais que pareça algo bizarro a sensibilidade impera, ainda mais porque vemos a história sob o olhar da protagonista.
Sarah (Alison Brie) é uma mulher sonhadora e socialmente desajeitada. Apaixonada por artes e artesanato, cavalos e crimes sobrenaturais, ela percebe que seus sonhos estão cada vez mais lúcidos e passa a se perguntar o que seria realidade e o que seria ilusão.
O filme tem uma carga dramática intensa, mas possui uma delicadeza impressionante, principalmente pela incrível atuação de Alison Brie e seus grandes olhos que nos revelam lentamente e confusamente sua decaída psicológica, o desencadear-se do seu adoecimento mental é progressivo e nos envolve numa manta de surrealismo que beira o humor, mas que na verdade é profundamente doloroso. Sarah é uma moça introspectiva, porém gosta de se comunicar e é bastante agradável, mantém uma relação distante, mas amigável com sua colega de quarto Nikki (Debby Ryan) e a sua colega de trabalho Joan (Molly Shannon), só que ninguém de fato é um elo e a vemos sempre sozinha, sua rotina inclui trabalho, visitar a hípica do qual seu antigo cavalo se encontra, fazer aulas de zumba e assistir seu seriado favorito, chamado Purgatório. Quando chega seu aniversário Nikki a obriga a se divertir um pouco e lhe apresenta um amigo, Darren (John Reynolds), Sarah já se encanta pelo nome, o mesmo do personagem da sua série predileta, com a ajuda de bebidas e algumas substâncias consegue se desprender e se divertir, mas esse momento marca o começo de um desencadear de problemas que vêm como sonhos lúcidos em que ela se enxerga num quarto branco com duas pessoas desconhecidas e mais adiante acordando em lugares estranhos, sua conclusão é que esta sendo abduzida e que é um clone de sua avó. Mesmo que ela saiba que tanto sua avó como sua mãe sofreram com distúrbios psicológicos não acredita que esteja acontecendo também consigo, seu pensamento é de que faz parte de algo grandioso e esteja num emaranhado de coisas sobrenaturais e experiências científicas. Elabora teorias cada vez mais surreais e junta elementos do seu cotidiano, como pessoas que viu, frases aleatórias que ouviu e sua mente produz sonhos, ela imerge tanto nesse universo que termina acordando em outros lugares e quando entra em si pensa ter sido abduzida.
No início a história possui um tom levemente cômico, uma personagem agradável e doce, mas a medida que sua mente se torna mais confusa e paranoica entramos junto dela num território sombrio, estranho e genuíno, sua mente vai se perdendo progressivamente e intensamente, o ápice seria quando ela conversa com seu ficante a respeito de suas teorias, o rapaz a ouve achando engraçado, mas entende depois através de um colapso nervoso que não estava brincando, essa cena explica o seu estado de saúde mental, e é impressionante que a partir daí as coisas realmente se tornam desesperadamente tristes, como a cena em que num minuto está no banho e no outro aparece pelada na loja em que trabalha, todas as cenas carregam sutilezas e por ser tudo mostrado através de seu olhar talvez nos confunda um pouco, mas é para nos dar a justa sensação de estar se perdendo dentro de si mesmo.
"Entre Realidades" é um ótimo exemplar sobre saúde mental, ele te insere na falta de controle sobre os delírios de forma orgânica, e mesmo sendo por vezes elusivo suas minuciosidades garantem a beleza da obra, certamente um filme para se ver com mais carinho.
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