"Elvira - Te Daria Minha Vida, mas a Estou Usando" (2014) dirigido por Manolo Caro - da série "A Casa das Flores" (2018) é um filme mexicano de dramédia bastante agradável mesmo que bandeando para um lado mais ácido da comédia, foge do estilo convencional do gênero e traz vigor e frescor para alguns clichês muito bem utilizados, os aprimora e dosa com muita perspicácia o desespero, a fluidez e a transformação da protagonista.
Uma noite, Gustavo (Carlos Bardem), marido de Elvira (Cecilia Suárez), sai para comprar cigarros e nunca retorna. Elvira, 40 anos, mãe de dois filhos, começa uma busca incessante pelo amor de sua vida. As pistas a leva à conclusão de que seu marido manteve um relacionamento secreto. A infeliz descoberta não a impede de seguir tentando encontrar seu marido.
Cecilia Suárez abrilhanta o filme com uma maravilhosa personagem que vai de uma mulher cercada pelos afazeres domésticos e pela criação dos filhos para uma transformação avassaladora que a liberta e a faz se conhecer e se amar. Tudo acontece numa madrugada quando Gustavo decide dar a velha desculpa do ir comprar os cigarros e já volto e não retornar mais, desesperada Elvira começa buscar pistas e inventar coisas para que as pessoas ao redor não vejam que está abandonada e conta com a ajuda de uma vizinha carente que lhe auxilia com os dois filhos, ela precisa arranjar um emprego e sempre com a desculpa de que o dinheiro não está sendo suficiente, Gustavo trabalha numa companhia de seguros e emprego mais formal que esse não existe, o que desencadeia o espanto quando descobre o que de fato aconteceu, um turbilhão de sentimentos invade Elvira e dia após dia continua a esconder a ausência do marido e se empenha em descobrir seu paradeiro, angustiada recorre a uma amiga que possui uma funerária e pede um emprego, o fato é que ela não sabe fazer nada e ela própria diz que o que faz de melhor é chorar, portanto, ali seria uma maneira de ganhar dinheiro e colocar seus sentimentos para fora. Vamos juntos de Elvira, a cada passo e a cada escolha que faz para tentar achar soluções, também estamos bem perto dela quando inicia sua transformação ao cortar o cabelo, já de certa forma uma outra mulher pronta para encarar os obstáculos, entre tantas loucuras por quais passa, pois após descobrir que Gustavo fugiu com um amante que conheceu em seu trabalho ela pira e começa a enxergar o rapaz em Ricardo (Luis Gerardo Méndez), um dos funcionários da funerária, os dois começam a se envolver e Elvira o leva justamente para o local em que se encontra Gustavo e o amante.
O misto de sensações que a história provoca ganha nossa atenção e transforma a tensão de muitos momentos em alívio, a montanha russa de sentimentos por qual a protagonista atravessa é de enlouquecer, mas passa, e é bom ver sua transformação e libertação, aliás muito bem conduzida, sem pressa e de acordo com os acontecimentos, fica a reflexão de que precisamos nos escutar mais e aceitar quem somos, levar a sério nossos desejos e escolhas, pois as consequências delas podem ser amargas e traumáticas.
"Elvira - Te Daria Minha Vida, mas a Estou Usando" é uma delícia e não bobeia na importância da mensagem, além do mais possui uma trilha sonora apaixonante que traz à tona canções regionais, vide a música tema "Suavecito", de Laura Léon, e também com a versão mais atual com a doce voz de Julieta Venegas. A melodia se encaixa perfeitamente à narrativa e não há melhor definição para o filme do que Suavecito, suavecito!
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