"Yomeddine" (2018) dirigido pelo egípcio A.B. Shawky é um filme sutil, emocionante e humano, retrata com espirituosidade a vida de um homem simples que vive à margem por conta de sua aparência, pois durante a infância sofreu de lepra/hanseníase, vivendo em uma comunidade excluída do resto da sociedade passa seus dias coletando lixo e conversando com um menino órfão que sofre bullying dos demais. O ator Rady Gamal realmente sofreu com a doença e lida com as consequências, ele interpreta a si mesmo e por isso a naturalidade faz parte da narrativa, a vida real é exposta com sensibilidade e muita esperança apesar de toda as enormes dificuldades, preconceitos e julgamentos, é uma jornada de descoberta e de afirmação.
Beshay (Rady Gamal) é um coletor de lixo que decide sair do confinamento de uma colônia de leprosos pela primeira vez e embarca em uma jornada ao Egito para procurar sua família. Ele viaja com seu burro e seu aprendiz órfão ao longo do Nilo e, pela primeira vez, fica cara a cara com a maldição de ser um estranho.
Beshay foi deixado pelo pai ainda criança numa instituição que tratava a doença e os separavam do restante da sociedade, muitos desses pais, assim como o de Beshay nunca mais apareceram e essa comunidade se transformou numa família de isolados para sempre marcados pela doença, apesar de não transmitir mais a infecção as limitações e marcas de Beshay são profundas, nessa colônia também existe um manicômio do qual sua mulher está internada e um orfanato que se encontra o seu fiel amigo Obama (Ahmed Abdelhafiz), rejeitado pelos outros meninos, parte dessa rejeição de Obama é por ser Núbio, o filme esbarra sutilmente nessa problemática de preconceito no país.
Tudo realmente começa quando Beshay resolve sair em busca de suas raízes apenas com algumas trouxas e seu burrinho, o garoto vai atrás mesmo contra a vontade de Beshay, nesse momento acompanhamos a estafante jornada de duas pessoas marginalizadas e absolutamente invisíveis à sociedade, eles buscam um pouco sobre si mesmos e nessa caminhada vão se deparando com muito preconceito, fome, miséria e descaso, só encontram acolhimento e empatia daqueles que também estão à margem e que partilham do sofrimento de não serem vistos como seres humanos. O sentimento amargo de que são considerados lixos ultrapassa a tela e promove um olhar empático para com essas pessoas e nos faz refletir no quanto se julga apenas pela aparência, numa sociedade hipócrita, individualista e arrivista são incômodos e tratados com nojo. O filme possui um tom alegre na maioria do tempo, afinal retratar com peso seria arriscado a cair num melodrama ou de incutir sentimentos de comiseração.
Tudo realmente começa quando Beshay resolve sair em busca de suas raízes apenas com algumas trouxas e seu burrinho, o garoto vai atrás mesmo contra a vontade de Beshay, nesse momento acompanhamos a estafante jornada de duas pessoas marginalizadas e absolutamente invisíveis à sociedade, eles buscam um pouco sobre si mesmos e nessa caminhada vão se deparando com muito preconceito, fome, miséria e descaso, só encontram acolhimento e empatia daqueles que também estão à margem e que partilham do sofrimento de não serem vistos como seres humanos. O sentimento amargo de que são considerados lixos ultrapassa a tela e promove um olhar empático para com essas pessoas e nos faz refletir no quanto se julga apenas pela aparência, numa sociedade hipócrita, individualista e arrivista são incômodos e tratados com nojo. O filme possui um tom alegre na maioria do tempo, afinal retratar com peso seria arriscado a cair num melodrama ou de incutir sentimentos de comiseração.
Uma das partes mais chocantes é quando ele está no trem e por não ter o bilhete é chacoalhado como se fosse um saco de lixo e indignado grita: "eu sou um ser humano", essa viagem é permeada de obstáculos cruéis, se submetem a muitas coisas e perdem muito pelo caminho, mas claro que também ganham, o amor um pelo outro, o carinho e a proteção. Beshay chega ao lugar que quis e percebe que a sua família é estar junto de Obama, pois esse nunca o abandonou. Há outra questão importante na história que é sobre a crença religiosa, o título mesmo em árabe se refere ao dia do julgamento, Beshay faz parte de uma minoria da população egípcia que pertence à Igreja Ortodoxa Copta da Alexandria, uma ramificação do Cristianismo, o personagem é resistente as adversidades por conta disso e coloca toda a sua esperança no dia do julgamento.
"Yomeddine" é uma bonita jornada de pessoas marginalizadas que buscam poder ser, ao ir à procura de sua família e obter uma sensação de pertencimento Beshay e Obama encontram um no outro todo o amor que necessitavam, a aceitação e o entendimento do que realmente importa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
SE FOR COMENTAR, LEIA ANTES!
NÃO ACEITO APENAS DIVULGAÇÃO.