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quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Midsommar: O Mal Não Espera a Noite (Midsommar)

"Midsommar" (2019) dirigido por Ari Aster (Hereditário - 2018) é uma obra que trabalha sentimentos de perda e luto de maneira estarrecedora, sua aura solar impregnada por símbolos pagãos absorvem o espectador numa atmosfera inebriante e pulsante, muito se assemelha ao terror folk de "O Homem de Palha" - 1973, pelo fato de conter elementos macabros e utilizar cultos pagãos num cenário diurno, o medo é trabalhado de variadas formas sempre colocando o quanto o diferente e a cultura do outro assusta, explora suas camadas com inteligência e fornece olhares diversos promovendo reflexões profundas, além de perturbar com sua luminosidade e fascinar por seus mistérios. 
Após vivenciar uma tragédia pessoal, Dani vivida pela ótima Florence Pugh - "Lady Macbeth" - 2016, vai com o namorado Christian (Jack Reynor) e um grupo de amigos até a Suécia numa viagem para um festival de verão único em uma remota vila sueca. O que começa como férias despreocupadas de verão em uma terra de luz eterna toma um rumo sinistro quando os moradores do vilarejo convidam o grupo a participar de festividades que tornam o paraíso pastoral cada vez mais preocupante e visceralmente perturbador.
A única parte escura do filme é o seu início quando retrata Dani preocupada com a irmã bipolar e com sua relação com o namorado Christian, que claramente está sufocado, mas adia o término do relacionamento criando um círculo de dependência que faz Dani sofrer, angustiante acompanhar o modo como Dani reage à tragédia envolvendo sua família, ela suporta o sofrimento calada, não demonstra tristeza para o namorado e quando percebe que precisa colocar para fora sai da presença dele e sozinha chora e grita. Convidados por Pelle (Vilhelm Blomgren) viajam para a Suécia a fim de conhecerem sua família e celebrarem o festival de solstício de verão numa pequena comunidade chamada Harga, junto deles vão Josh (William Jackson Harper) e Mark (Will Poulter), amigos com comportamentos tão chatos e escrotos quanto o do próprio Christian para com Dani, inicialmente ela não estava convidada, mas toda a situação a levou a querer ir e Pelle se mostrou bastante empático e receptivo, então chegando lá somos apresentados ao edênico local e no decorrer vamos observando toda a festividade que acontece a cada 90 anos e tem a duração de 9 dias. 

O filme faz questão de mostrar que se trata de uma fábula, um conto de fadas sombrio à la Grimm, mesmo se passando na mais completa resplandecência, logo em seu começo observamos uma espécie de prenúncio, um quadro que possui desenhos/símbolos que denotam toda a trajetória da história, há muitas referências no seu decorrer, como as pinturas e outros diversos elementos bem explícitos, porém todo o mistério é mantido e permanece intacto nos levando para algo completamente único e peculiar, rituais de sacrifício, fertilidade, prosperidade, uma comunidade extremamente unida e feliz repleta de segredos e regras de sobrevivência.

Tudo é muito bonito, as flores coloridas e tão vivas impressiona e geram efeitos de bem-estar, acolhimento e liberdade, quase sempre o pessoal está usando substâncias psicotrópicas naturais e Dani tem várias bad trip e sensações de que a natureza se apodera dela. O que seria uma maneira de o casal se reconciliar termina por ser um aliviante e intenso recomeço para Dani, o lugar a abraça num momento sensível e a faz eliminar suas angústias e sofrimentos, vide a cena de catarse lá pelo final entre ela e as meninas, a partir do instante que ela começa a ajudar nos afazeres e a se integrar nos rituais sua mente e seu corpo dão indícios de que ali é seu lugar. Impressionante o como o terror é sutil e tão cheio de detalhes, a cultura exposta contendo autoimolação, canibalismo, sacrifícios, rituais de fertilidade e feitiços podem soar bárbaros a alguns, mas para outros um motivo de estudo e compreensão numa perspectiva antropológica, também pode-se gerar algum riso, já que há uma certa mania de desdenhar de algo que não se possui o conhecimento.

"Midsommar" é um filme esteticamente impecável, perturba pela sua claridade e o ar de deslocamento que provoca, as tradições ancestrais são detalhadas, belas canções e danças folclóricas são exibidas, vários rituais brutais e cerimônias baseadas na mitologia nórdica, elementos e símbolos intrigantes, o mistério das runas e toda a festividade envolvendo o solstício gera bastante curiosidade. É um exemplar perfeito para quem curte filmes que abraçam a temática de cultos pagãos e inserem um potente e complexo drama dentro desse contexto.

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