"Gwen" (2018) roteirizado e dirigido por William McGregor é um drama melancólico aterrador ambientado no País de Gales, primoroso em sua atmosfera somos inseridos no século XIX e pela perspectiva da protagonista adentramos em um mundo dominado por homens gananciosos e inescrupulosos, a sobrevivência de uma família em que as mulheres estão por si só, pois o marido está longe por causa da guerra e, talvez, esteja morto, então os especuladores estrategicamente lançam histórias sobre elas com intenção de obterem o território.
Nas montanhas da Snowdonia do século XIX, Gwen (Eleanor Worthington-Cox) vive em uma fazenda com sua mãe e sua irmã mais nova. Com seu pai fora na guerra, sua mãe repentinamente caindo doente e a fazenda sofrendo com estranhas ocorrências, Gwen tem que lidar com a dificuldade de manter seu lar funcionando enquanto uma profunda escuridão parece rondar sua família.
Escura, lamacenta e desesperançosa é a encosta em que vive Elen (Maxine Peake) e suas duas filhas, a adolescente Gwen, que possui uma relação de amor e ódio com ela e a caçula Mari (Jodie Innes), quando surge um surto de cólera na vizinhança e as batatas começam apodrecer a situação delas fica insustentável, na miséria e com Elen adoecendo cada vez mais Gwen precisa tomar as rédeas e amadurecer rapidamente, elas perdem o meio de sustento, os animais amanhecem mortos e os poucos legumes que possuem tentam vendê-los, mas as pessoas não querem nada vindo de lá, pois o padre lança boatos, parece não haver chances de se livrar dessa maldição e a terra que parece não oferecer nada é ambicionada por esses homens que tentarão de tudo para consegui-la.
O filme possui bastante sutileza e é minucioso, são pequenas atitudes e diálogos pontuais que exemplificam a maldade em torno delas, a tristeza de Gwen aumenta a cada novo entendimento de como esse mundo em que vive funciona. O terror não é caracterizado pelo medo de fantasmas e do sobrenatural que muitas vezes Gwen sente, na verdade, está contido em coisas reais, como na atmosfera desoladora e a sensação do vento cortando, a religião que prega visões distorcidas de bem e mal e o pensamento patriarcal e machista que domina e destrói. Os elementos são utilizados com destreza e gera sensação de angústia, a injustiça cometida contra elas penetra.
O filme possui bastante sutileza e é minucioso, são pequenas atitudes e diálogos pontuais que exemplificam a maldade em torno delas, a tristeza de Gwen aumenta a cada novo entendimento de como esse mundo em que vive funciona. O terror não é caracterizado pelo medo de fantasmas e do sobrenatural que muitas vezes Gwen sente, na verdade, está contido em coisas reais, como na atmosfera desoladora e a sensação do vento cortando, a religião que prega visões distorcidas de bem e mal e o pensamento patriarcal e machista que domina e destrói. Os elementos são utilizados com destreza e gera sensação de angústia, a injustiça cometida contra elas penetra.
A atmosfera ameaçadora e pesada joga com a ambiguidade cruel, nada é revelado totalmente e a tristeza e a sensação de alucinação permeia por todo o desenrolar. Essas características remetem muito ao filme "A Bruxa" - 2015, e também ao "Hagazussa" - 2017, onde a narrativa prima por um mistério que provoca e assombra nas entrelinhas.
"Gwen" é um ótimo exemplar de horror que retrata com maestria a opressão e a perseguição às mulheres por parte de religiosos, o terror está no drama real, no silêncio da escuridão que evoca uma tristeza poética.
Acho que o filme traz também uma crítica nada alvissareira daquele momento histórico: início da Revolução Industrial, êxodo rural, empresários querendo tomar terras de camponeses a qualquer custo, principalmente se forem terras que servem como pedreiras para extração de ferro, dinheiro mandando em tudo... aquela história do remédio que a mãe precisa tomar, por exemplo, crítica aberta ao capitalismo. Tenho visto essa temática sendo retomada em vários filmes atuais como "Asura" (Coreia do Sul, 2016), "La loi du marché" (França, 2015), "Eu, Daniel Blake" (UK, 2016), "Parasitas" (Coreia do Sul, 2019), "A forma da água" (EUA, 2017) e muitos outros. Talvez o clima (magistralmente expresso) nesse filme queira nos dizer algo, Marília...
ResponderExcluirDe toda forma, como sempre grato pela dica!
Comentário primoroso, obrigada Renato!
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