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quinta-feira, 9 de março de 2017

Baba Joon

"Baba Joon" (2015) dirigido por Yuval Delshad traz como tema o conflito de gerações, a carga de preencher a lacuna geracional. Em um ambiente patriarcal onde não há espaço para anseios próprios o pequeno Moti luta para ter a sua individualidade e a sua independência. "Baba Joon" é um termo de carinho, uma maneira de expressar respeito ao pai e um apelido aceitável entre todos os homens de uma família tradicional iraniana.
Yitzhak (Navid Negahban) se orgulha em manter a fazenda de perus que seu pai construiu quando a família se mudou do Irã para Israel. Com seu filho, Moti (Asher Avrahami), prestes a fazer treze anos, Yitzhak espera que o menino aprenda o ofício e, no fim, assuma o negócio. Porém, o verdadeiro interesse e habilidade de Moti é a mecânica, reconstruindo carros antigos e caminhões. O filho não esconde seus desejos para o pai, o que gera um crescente conflito, pois Yitzhak vê a rejeição como um insulto a todos os valores que ele preza.
É natural que o pai se preocupe com o futuro do filho em qualquer parte do mundo, mas quando a figura paterna é demasiadamente forte dentro do ambiente familiar e o desejo da profissão de ser passada adiante predomina, acaba se tornando um grande obstáculo para a independência e o conhecimento de si mesmo. No filme esse dilema é ampliado, pois a família é de imigrantes e trata-se de honrar as tradições persas, de se firmar perante a sua comunidade. Yitzhak teme seu pai, o homem que construiu a fazenda de perus com as próprias mãos, um trabalho que será passado adiante para Moti, que não disfarça o seu repúdio para tal, o seu negócio é a mecânica, ele tem um talento nato para consertar e construir - a cena inicial exemplifica - o que não é apreciado pelo pai.
Quando a família se mudou do Irã para Israel, Yitzhak foi forçado a continuar o trabalho de seu pai, um homem que tem como base de vida as leis de sua religião, como agente catalisador surge Darius (David Diaan), o irmão de Yitzhak, que diante do contexto da época preferiu fugir para os EUA, claramente vemos Yitzhak se sacrificar em prol da família, mas isso não lhe dá o direito de privar seu filho da escolha, como seu irmão diz, o mundo mudou. 

Não é fácil para Yitzhak, porém ele precisa enxergar que o caminho do filho somente ele pode traçar, nesse ambiente dominado pelas figuras masculinas, Sarah (Viss Elliot Safavide), a mãe de Moti, surge de vez em quando e diz para o marido não ser tão rude, compreender o filho e para lembrar que também teve essa idade e não forçá-lo ao trabalho na fazenda.
As cenas em que aparecem os perus impressionam, principalmente quando os personagens adentram o celeiro e todas as aves levantam a cabeça juntas, e também quando Yitzhak tenta ensinar Moti a cortar o bico, angustiante tanto por parecer judiar do animal, quanto pelo sofrimento do menino.

Outro ponto surpreendente é o local de filmagem, nos arredores do deserto de Negev, fascinante o estilo naturalista, o que ajuda a dar um tom sóbrio à história mesmo tendo uma forte carga dramática.
"Baba Joon" é um belo e emocionante filme que levanta questões importantes sobre o conflito de gerações, e mais que isso traz um olhar de esperança, de mudança e amor.

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