"Meu ponto é... você pode sair do ciclo de uma pessoa. Mas não pode sair do seu."
"Rainha do Mundo" (2015) dirigido por Alex Ross Perry (Cala a Boca Philip - 2014) é um terror psicológico que no seu decorrer se intensifica e modifica sentimentos, como a amizade em inveja e acolhimento em uma troca de farpas. A atmosfera de tensão se dá do começo ao fim e alucinamos junto com Catherine, vivida por Elisabeth Moss, numa atuação soberba. Ela e Virginia (Katherine Waterston) são melhores amigas e cresceram juntas. Todos os anos vão relaxar na casa do lago que pertence a família de Virginia, as duas usufruem dos privilégios que possuem e não há muito para se preocupar, até que a vida de Catherine desmorona com o abandono do namorado e a morte do pai, desolada pede ajuda a sua amiga, que a leva até a casa do lago. Porém, a confiança das duas está abalada, devido os mal-entendidos e acontecimentos sucedidos no ano passado. O ambiente que era para se tornar um abrigo a Catherine acaba se transformando num inferno, lembranças surgem e sua mente vai ficando perturbada, principalmente quando surge Rich (Patrick Fugit), o vizinho de Virginia que insiste em chamar Catherine de mimada, entre outras coisas.
Virginia exibe um semblante duro, sua preocupação com a amiga é distante e sempre faz questão de criticá-la, não entendemos o porquê se comporta assim, já que são melhores amigas. O passado se mistura com o presente compondo um mosaico de situações, e a partir daí Catherine sente os sinais de depressão e loucura. O clima do filme é claustrofóbico, apesar do ambiente dizer o contrário, o lago, a floresta seria sinônimo de liberdade e renovação, os closes são de tirar o fôlego e frisa o estado psicológico da protagonista, não sobra espaço pra mais nada. A trilha sonora destoante também contribui para perturbar. A atuação de Elisabeth Moss é intensa, pesada, nossos sentimentos para com ela mudam muito, sua degradação psicológica é agoniante.
O filme tem um quê de anos 70, devido o diretor não trabalhar com o digital. É preciso imergir na atmosfera do filme, sua narrativa talvez não agrade muito, principalmente por não haver respostas. Os dilemas, as frustrações e neuroses são colocados pra fora, e às vezes com longos diálogos com a câmera estática.
Virginia e Catherine são mimadas, uma é de família burguesa, a outra é assistente, a sombra do pai artista. Preocupadas com seus umbigos e por causa da amizade antiga se permitem criticar uma à outra, interessante notar os olhares entre elas quando há os desabafos, existe uma competição e inveja misturada a preocupação e carinho.
São personagens desagradáveis, dependentes, inseguras, egoístas e que não sabem lidar com as pessoas. Não é difícil lembrar de alguém assim vendo o filme, qualquer um deve ter aquele amigo que conta as suas conquistas ou derrotas, mas que nunca te ouve, que surta quando você não responde, mas quando é a sua vez finge que está ocupado. Com certeza existe um buraco imenso nessa pessoa que precisa ser preenchido com elogios e mais elogios. Catherine necessita sempre se reafirmar como artista por causa da figura de seu pai. Rich é quem de fato a desestabiliza, toca no seu ponto fraco, há uma cena lá pelo final do filme completamente desconcertante entre eles.
"Rainha do Mundo" não é um grande filme, mas quando se é absorvido por ele se torna uma experiência forte. É um longa que prima pela atmosfera tensa e aterrorizante, entre silêncios e histerias acompanhar a trajetória de insanidade da protagonista não é pra qualquer um.
Um filme que me peguei não gostando e que em seu decorrer, ato final e reflexão pós-filme acabou demonstrando suas qualidades, o diretor soube dissecar o quanto uma amizade* é complexa e digo não no termo mais raso da palavra, mas o relacionamento, amor, afeto, altruísmo, solidariedade...
ResponderExcluirUma boa escolha para aqueles momentos que queremos pensar como você disse naqueles "amigos" que o são somente em uma via de mão única (que querem que as coisas fluam somente para o lado deles) e como estudou Freud essa tal amizade não passa lá no fundão de nossa consciência de puro interesse, para todos nós, não adianta negar.
*Amizade (do latim amicus; amigo, que possivelmente se derivou de amore; amar, ainda que se diga também que a palavra provém do grego) é uma relação afetiva, a princípio, sem características romântico-sexuais, entre duas pessoas. Em sentido amplo, é um relacionamento humano que envolve o conhecimento mútuo e a afeição, além de lealdade ao ponto do altruísmo. Neste aspecto, pode-se dizer que uma relação entre pais e filhos, entre irmãos, demais familiares, cônjuges ou namorados, pode ser também uma relação de amizade, embora não necessariamente.
Não entendi o final ��
ResponderExcluirTambém não consegui entender o final.
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