"Love" (2015) dirigido pelo sempre polêmico Gaspar Noé (Enter the Void - 2009), disserta sobre a relação amorosa de Murphy (Karl Glusman), um americano que estuda cinema em Paris e Electra (Aomi Muyock), estudante de artes. A relação é mostrada ao longo do filme quando Murphy começa a relembrar, a intensa paixão é explorada em todos os detalhes, desde o encantamento inicial aos estilhaços do final.
Murphy está frustrado com a vida atual que leva, ao lado de Omi (Klara Kristin) e do filho. Um dia, ele recebe um telefonema da mãe de sua ex-namorada, Electra, perguntando se ele sabe onde ela está, já que está desaparecida há meses. Mesmo sem a encontrar há anos, a ligação desencadeia uma forte onda saudosista em Murphy, que começa a relembrar fatos marcantes do relacionamento que tiveram.
Todas as características de Gaspar Noé estão presentes, o existencialismo, a psicodelia, a fotografia estilizada, os cortes que imitam piscar de olhos. Seus filmes sempre geram sentimentos controversos e sinestésicos, a câmera nos faz viajar. "Love" mostra o amor sob o ponto de vista do sexo, por vezes simples, repetitivo e sem profundidade. Sem dúvidas a estética se sobressai. As cenas são maravilhosamente bem orquestradas, ângulos diferenciados, hipnotiza o espectador e mantém toda a atmosfera erótica, o destaque vai para a cena do Ménage à Trois.
Para quem pensa em assistir o filme especialmente por conter cenas de sexo explícito é bom saber que dificilmente irá se excitar vendo-as, até porque as cenas não foram feitas para isso, geralmente elas carregam sentimentos confusos e aleatórios, como quando o casal vai até um clube de swing, mas também há as partes em que o sexo é romantizado, claro sem nenhum clichê, afinal trata-se de uma obra que tem o sexo como o protagonista.
"Love" não tem diálogos tão interessantes, há inúmeras questões existenciais, mas nada reflexivo. Depois da alegria dos momentos iniciais, a relação deles passa a ser regada a drogas, infidelidade e experiências sexuais. Quando Murphy engravida Omi e conta a Electra, ela surta e se autodestrói. Murphy insatisfeito com a vida que leva, não consegue ser pai, sua relação com Electra o atormenta, ele repensa o como gostaria de ter feito diferente.
É um filme corajoso e com certeza uma experiência nova, não é uma obra primorosa, mas também não é ruim. O sexo vende, mas não tem jeito, ainda é tabu, culturalmente não se pode falar abertamente, e quando cenas mais explícitas aparecem em filmes geram comentários, às vezes o conteúdo do filme é esquecido por causa de uma única e exclusiva cena de sexo. Aqui no Brasil "Love" foi rejeitado por algumas redes de cinema, outros exibidores o colocaram em horários específicos. Por causa de um conservadorismo privam o público de escolher o que assistir.
Em um relacionamento amoroso o sexo se faz presente, então nada mais natural que retratá-lo, Gaspar Noé expõe um relacionamento em todas as suas fases e da forma mais real, por vezes romântico, por vezes impulsivo, e o como é complicado se relacionar e saber o que de fato é amor.
"Love" possui referências gritantes ao próprio diretor, Murphy e seu desejo de fazer um filme que mostre de forma verdadeira o amor e o sexo, o nome de seu filho, Gaspar, o ex-namorado de Electra, Noé, o hotel de "Enter The Void" em miniatura no quarto de Murphy, entre tantas outras.
"Love" tem apenas uma ou outra cena chocante, mas o filme é cru, intenso e até desagradável, os personagens nos carregam para o abismo. Gaspar Noé propõe o novo, o audacioso, é aprender a ver um tipo diferente de cinema. Mesmo não sendo excelente surpreende. Vale ressaltar a ótima trilha sonora, vai de Bach, Erik Satie, John Carpenter, Pink Floyd e a psicodelia de Funkadelic, etc.
Ainda não assisti este filme de Gaspar Noé, mas gostei muito de "Sozinho Contra Todos" e acredito que sou um dos poucos que considera "Irreversível" um grande filme.
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