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terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Mulher da Cor do Tango (Livro)

"Mulher da Cor do Tango" escrito por Alicia Dujovne Ortiz é um romance argentino inspirado numa ideia fascinante uma vez escrita por Julio Cortázar. Mirelle: uma prostituta amiga de Toulouse-Lautrec, e por ele retratada no quadro: "Au Salon de la Rue des Moulins", seria também a mesma Mireya cantada num tango de Carlos Gardel.
Alicia Dujovne Ortiz mergulha nesse universo e nos conta de maneira hipnotizante a trajetória dessa mulher encantadora e diferente das outras prostitutas, era a única que esperava os homens sem pôr espartilho e foi por tal espontaneidade e franqueza que arrebatou o pequeno Mr. Lautrec, que era seu conterrâneo, de Albi, a cidade vermelha. Os dois acabam tornando-se amantes e a relação confunde-se num amontoado de sentimentos. Mas em determinado momento Mirelle decide abandonar seu benfeitor pelas promessas de um argentino. Em Buenos Aires ela se torna a loira Mireya e numa extraordinária tangueira.

"No museu de Albi está um dos mais belos quadros de Toulouse-Lautrec, "Au Salon de la Rue des Moulins", pintado em 1894 no prostíbulo onde o artista passava longas temporadas. No primeiro plano está uma das prostitutas, sentada em um sofá vermelho, o rosto de perfil, com o olhar distante, talvez distraída ou à espera do próximo cliente, uma perna esticada, a outra recolhida. O cabelo louro avermelhado, o colo generoso, o corpo podendo ser adivinhado sob um vestido verde que mais parece uma camisola transparente, as meias de um verde quase negro, toda ela obedecendo aos cânones da época. O perfil é fino, cortante. Essa mulher se chamava Mirelle, e foi uma das boas amigas de Toulouse-Lautrec. Tão boa amiga que despertou ciúmes no pequeno mundo fechado do bordel..." (Monsieur Lautrec, de Julio Cortázar).

A narrativa é repleta de figuras de linguagem e poesia, principalmente no que se refere ao sexo e ao tango. É apaixonante a descrição de cada cena.
Mirelle ao contrário das outras prostitutas refulgia (termo utilizado no livro para orgasmo) com os homens, ela procurava por detalhes que a maravilhava e se focava neles até o ponto máximo. Seu olhar em relação a todos que a rodeia é minucioso e faz com que de fato consigamos construir os personagens na imaginação.
O sexo e o tango se entrelaçam, vários termos e signos são utilizados, a sensação do tango nos acomete, contemplamos a sua evolução, a riqueza de detalhes de uma cultura, e também a dessacralização de alguns mitos argentinos e franceses. As recriações são tomadas de uma ironia e sutileza primorosas.



A trajetória dessa prostituta é pitoresca e enveredamos por caminhos nem sempre tão aconchegantes. A mulher retratada passa por inúmeras situações e nos apaixonamos pela sua história. Uma aura misteriosa e sensual faz desse um exemplar curioso e estonteante, uma maravilha a ser descoberta e com certeza degustada!
O livro tem uma beleza única e criativa, todo o contexto biográfico envolvendo Lautrec e Carlos Gardel está muito bem inserido e a delicadeza permeia toda a obra. É um romance delicioso que flui entre a leveza e a potência do tango.

"Na vida não se trata de não se enganar, mas sim de acertar o engano preciso, porque o espelho da verdade está embaçado, é um espelho final onde o caminho acaba, enquanto o do erro nos reflete indo para alguma parte com um gesto vivo."

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