Páginas

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Cinco Graças (Mustang)

"Cinco Graças" (2015) é uma produção francesa, porém a direção é da turca Deniz Gamze Ergüven, que toca de maneira sensível em um assunto muito importante, o empoderamento da mulher na sociedade turca contemporânea. 
No início do verão em um vilarejo turco, Lale e suas 4 irmãs brincam de forma debochada com os meninos, o que acarreta em um escândalo de consequências muito fortes: a casa delas se torna praticamente uma prisão, elas aprendem a limpar ao invés de ir para a escola e seus casamentos começam a ser arranjados. As cinco não deixam de desejar a liberdade, e tentam resistir aos limites que lhes são impostos.
O título original "Mustang" representa muito bem a personalidade indomável destas garotas, elas não são submissas, questionam e lutam para conseguir liberdade. "Cinco Graças" por vezes remete a "Virgens Suicidas" (1999), de Sofia Coppola, o fanatismo religioso, a opressão contra as adolescentes e a revolta gerada, mas a obra de Deniz vai mais além e tem marca própria, denuncia preceitos rigorosos designados como parte de uma cultura para oprimir as mulheres.
As meninas tem vida, são adolescentes, querem conhecer o mundo a sua volta, conviver com os amigos e todas estão em fase de transformação, questões sexuais as rondam a todo o instante. Sonay (İlayda Akdoğan) é a primeira a se envolver com um garoto e nada é capaz de prendê-la em casa, quando decidem casá-la assume que é apaixonada e só se casará com quem ama, Selma (Tuğba Sunguroğlu) acaba ficando com o encargo, se casa forçada, além de ter que ficar provando sua virgindade a todo momento, Ece (Elit İşcan) revolta-se e se torna cínica e incapaz de continuar a viver dessa forma, seu desfecho provoca sentimentos estranhos, pois ninguém exibe culpa ou remorso pelo que fez a ela. Nur (Doğa Doğuşlu) está prestes a se casar com o marido que escolheram para ela, mas Lale (Güneş Şensoy), a menorzinha e mais forte pretende fugir daquela casa junto dela. Ao longo do filme vai elaborando ideias para isso acontecer. Ela é enérgica, esperta e tem muita consciência da sua liberdade de escolha, e é pelo seu ponto de vista que acompanhamos a história.
"Cinco Graças" é cruel, mexe bastante conosco, não é agradável assistir a repressão da qual elas sofrem, mas a delicadeza e a beleza está presente na mesma proporção, assim como a força e a possibilidade de mudança, porque esses costumes estão cada vez mais sendo questionados, as novas gerações estão tomando consciência e lutando pelos seus direitos, a sociedade turca é um misto de culturas e religiões, por conta disso é considerada até tolerante, mas muitas coisas ainda persistem. Várias passagens podem ser transportadas para nosso país, religiões que restringem a liberdade da mulher, ideias incrustadas na sociedade que ajudam a solidificar conceitos, etc.
O filme propõe a reavaliação de costumes, a exercer o direito de escolha, a liberdade de ser, querer, e viver. É um tema super importante e carrega um final lindo e esperançoso.

A história tem muita naturalidade e as meninas cada uma a sua maneira demonstra anseios, alegrias e revoltas. A diretora acertou em cheio no roteiro e a trilha sonora complementa a aura do filme.
"Cinco Graças" é triste e doloroso, porém não deixa de ser belo e delicado, mas principalmente se sobressai pela força contestadora e pela sua linda ode à liberdade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

SE FOR COMENTAR, LEIA ANTES!

NÃO ACEITO APENAS DIVULGAÇÃO.