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quarta-feira, 6 de maio de 2015

O Estranho em Mim (Das Fremde in Mir)

"O Estranho em Mim" (2008) dirigido por Emily Atef é um filme muito angustiante, o drama da personagem vivida pela Susanne Wolff é dificilmente explorado no cinema. Chega a doer de tão real. A depressão pós-parto é um assunto que muitas mulheres evitam, já que amar o ser que sai de suas entranhas é algo intrínseco e natural, e por não conseguir entender a melancolia e a incapacidade que as toma acabam se culpando.
Acompanhamos um jovem casal apaixonado, Rebecca, 32 anos, e seu namorado Julian, 34, estão ansiosamente esperando seu primeiro filho. O mundo deles parece perfeito quando Rebecca dá à luz a um menino saudável. Mas ao invés do amor incondicional que esperava sentir, ela se vê imersa num redemoinho de sensações de impotência e desespero. Seu próprio filho lhe parece um estranho. Com o passar dos dias, fica cada vez mais aparente sua inabilidade para cumprir com as obrigações maternas. Incapaz de admitir seus sentimentos para alguém, nem mesmo para Julian, ela desce ao fundo do poço, a ponto de perceber que está se tornando uma ameaça à criança. Depois de um ataque de nervos, Rebecca é mandada para uma clínica. Lentamente, ela começa a desejar o toque, o cheiro e a risada de seu filho. Talvez um despertar da mãe que há dentro dela.
É um filme particularmente feminino, mas isso não quer dizer que os homens não consigam criar empatia, a direção, a abordagem e a protagonista é de extrema sensibilidade. Rebecca tem um relacionamento e uma vida boa, está feliz pela chegada do bebê, mas após o parto não consegue criar o vínculo esperado, a hora da mamada é o forte indício de que algo está errado, mas como acontece na maioria dos casos a culpa a corroí e não conta para ninguém o que está sentindo, distancia-se do marido, seu semblante se modifica, e de repente sem querer percebe que a criança pode estar em risco na sua presença. Numa caminhada acaba esquecendo o carrinho na rua e pega um ônibus, o estopim para que a internem e daí comecem um tratamento para que se aproxime do filho.

Tenso, "O Estranho em Mim" consegue nos elucidar sobre o problema sem ser didático, há muitas cenas fortes, desconfortáveis e silenciosas que parecem não terminar, uma bela tour de force da atriz que se entregou à personagem com maestria. Além da depressão pós-parto o filme também disserta sobre a falta de comunicação.
A imagem da mãe segurando feliz seu bebê recém-nascido, o amor incondicional, a dedicação integral é demasiadamente exposta, é algo divino e ponto. Excluem-se todas as problemáticas que envolve a experiência de dar à luz. A diretora coloca em pauta o assunto que é considerado tabu e que não se conversa sobre, um momento delicado e de redescobertas para a mulher. 
"O Estranho em Mim" não é um filme de fácil absorção, é duro e chega a ser cruel o desespero que a personagem sofre. Um ótimo exemplar do cinema alemão, maduro, sensível e real.

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