"Hamaca Paraguaya" (2006) dirigido por Paz Encina é um marco do cinema paraguaio, já que desde 1978 não se produziu nada no país, sendo o último filme feito "Cerro Cora", de Guillermo Vera. É um filme que exige o máximo de atenção do espectador, pois a narrativa e a estética foge completamente dos padrões. Cinema autoral da melhor qualidade e rica experiência para quem aprecia cinema.
Em 1935, num lugar remoto do Paraguai, o casal de idosos Cândida e Ramón espera pelo filho que foi lutar na Guerra do Chaco. Faz muito calor, e eles também anseiam por chuva, que foi anunciada, mas nunca chega, assim como também o vento, que nunca sopra. Ele corta cana, ela cuida da casa, e o cachorro nunca para de latir. Eles continuam esperando por tempos melhores. Ramón é otimista, Cândida acredita que o filho já esteja morto. As cenas repetem-se monotonamente a cada dia.
Falado em guarani "Hamaca Paraguaya" retrata a inércia e a monotonia, são longos planos em câmera fixa e quase sempre distantes e diálogos que nada tem a ver com o que se passa em cena, como quando Ramón corta cana sozinho e o diálogo que acontece é do filho se despedindo para ir à guerra do Chaco (Guerra entre Paraguai e Bolívia).
O som ambiente ajuda na extrema naturalidade, o ruído dos pássaros que nunca são enxergados por Ramón devido as nuvens carregadas, os trovões que anunciam a chuva que nunca vem e os latidos incessantes do cachorro. A hamaca (rede) foi o símbolo que a diretora usou para metaforizar a paralisia do país e do povo paraguaio, a constante espera de algo e a acomodação por causa medo.
O filme disserta sobre o tempo, a velhice, o amor. Uma obra impressionante e poética. Amargo e doce ao mesmo tempo, assim como a vida. O casal de idosos sofrem pela partida do filho, pela espera, pela quase certeza de não vê-lo mais, mas apesar do tom pessimista do longa, há uma ponta de esperança, como a chuva ao final representando dias melhores. Pouco acontece, quase sempre estão reclamando, seja da rede estar velha, do vento que não sopra, do cachorro que ora late demais, ora está quieto demais, e especialmente do calor.
A repetição das cenas e das conversas dão uma certa angústia, assim como a lentidão com que os personagens exercem suas poucas atividades e no como conduzem as conversas, o cansaço, o tédio, a espera.
É um filme em que o som é tão importante quanto a imagem, e é ele que conta a história, evocando memórias, nos colocando de frente ao presente e deduzindo um futuro. Não é um filme fácil, mas sem dúvidas é daquelas obras que precisamos conhecer, pela sua importância em evidenciar o cinema paraguaio e para saber mais da cultura e História do país.
Palavras da diretora Paz Encina: "Quando concebi a estética temporal para "Hamaca Paraguaya", decidi que cada imagem duraria todo o tempo que fosse necessário para expressar-se e não o tempo para que os outros o vissem. Em cada plano, os pequenos atos são mostrados de principio a fim: um suspiro que termina, um leque que se abana e acaba por refrescar o ambiente, o canto de uma cigarra, alguém que descasca e come uma laranja em tempo real. O que me interessa é que cada imagem capture não somente a beleza exata das coisas, senão também os momentos precisos que evocam um detalhe perfeito de cada um destes atos, que se observam na totalidade de seu desenvolvimento."
Que o futuro seja generoso e nos traga mais filmes vindos do Paraguai, registrando a realidade do país e do seu povo. Um bom exemplo recente é o "7 Caixas" (2014), criativo e genuíno.
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