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segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Vocês, os Vivos (Du Levande)

"Alegre-se então, por existir, na sua quente e deliciosa cama, antes que a fria brisa bata nos seus pés descalços."

"Vocês, os Vivos" (2007) é o segundo filme da trilogia sobre a existência de Roy Andersson, que começou com "Canções do Segundo Andar" (2000). O diretor ironiza situações cotidianas, papéis que nos submetemos todos os dias, seja no trabalho, família e lazer, geralmente não pensamos, agimos automaticamente, mas ao assistir este longa vemos de fora, e por isso a experiência se torna grandiosa. As cenas provocam riso perante atitudes risíveis, sem sentido, mas que fazem parte da vida de qualquer pessoa.
Um olhar sobre o ser humano, sobre suas conquistas e misérias, sua alegria e seu sofrimento, sua autoconfiança e ansiedade. Personagens que trazem em comum um aspecto solitário, mesmo quando estão cercados por outras pessoas. Um ser humano de quem se quer rir e também chorar por ele, ou ela. É simplesmente uma trágica comédia ou uma cômica tragédia sobre todos os homens e mulheres. Situado em Estocolmo, o tema se encaixa universalmente em qualquer lugar ou qualquer época. Composto por 57 vinhetas com a câmera estática acompanhamos diversas situações, como a professora que não consegue dar aula e sai chorando, a mulher deprimida que acha que ninguém a entende e briga com seu marido que diz frases feitas, como por exemplo: "A vida é dura", "Você precisa tentar", também há a garota obcecada por um músico famoso, o marido que diz ter perdido a aposentadoria em péssimos investimentos enquanto faz sexo com a mulher, o homem condenado a cadeira elétrica por ter derrubado em uma brincadeira um vaso de porcelana valioso, o psiquiatra que cansou de ouvir as pessoas, pois são todas egoístas e resolve prescrever apenas antidepressivos, entre tantas outras. Todos em uma condição de inadaptação, solidão e desespero.
O aspecto dos personagens é de cansaço, a palidez evidencia que todos estão mortos em vida, apenas continuando a seguir suas rotinas. Apesar de apresentar a decadência, os episódios dão um ar engraçado, mas de forma peculiar, o interessante é exatamente o poder de se estar observando, como se víssemos nossas próprias atitudes ali expostas, e percebamos o quão bizarras elas são. Todos estão perdidos em suas próprias solidões. Roy Andersson é um cineasta corajoso, vai contra a maré, não está interessado em agradar, mas sim em colocar sua arte para fora e quem desejar vê-la será bem-vindo, não há preocupações em atrair o público, seus filmes são diferentes e precisam ser refletidos, falam da existência e de coisas que preferimos não pensar.

Essa obra retrata a imperfeição do ser humano, a complexidade que revela o ridículo, o tédio, e a banalidade. Algumas cenas são bem explícitas e outras absurdas e que talvez tenham algum simbolismo, ou não. "Vocês, os Vivos" provoca inicialmente o riso, mas não demora para que ele suma de nosso rosto e entre uma certa angústia.
O título do filme já revela ironia, ao falá-lo um certo sorriso se forma, daqueles quando só nós vemos algo enquanto o restante não percebe.
Poucos são os cineastas que refletem a vida com pessimismo sem cair em total melancolia, ou parecer pretensioso a ponto de ser um cinema exclusivo, Roy Andersson compartilha conosco suas visões sobre o ser humano e faz de maneira universal. O terceiro filme que fecha a trilogia "Um Pombo Pousou num Galho Refletindo Sobre a Existência" já saiu e ganhou o Leão de Ouro deste ano (2014).

Uma das melhores cenas consiste neste desabafo: "Sou um psiquiatra há 27 anos. Estou completamente exausto. Ano após ano ouvindo pacientes que não estão satisfeitos com suas vidas, que querem se divertir, que querem que eu lhes ajude. Isso esgota, podem acreditar. A minha vida não é exatamente muito divertida. As pessoas exigem tanto. Essa é a conclusão a que cheguei: elas querem ser felizes mas são egocêntricas, egoístas e pouco generosas, quero dizer que elas são simplesmente mesquinhas. A maioria. Passar horas tentando fazer uma pessoa mesquinha feliz não faz sentido. Não dá pra aguentar. Atualmente, só receito remédios, quanto mais forte melhor. É isso aí."

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