"Still the Water" (2014) de Naomi Kawase (A Floresta dos Lamentos - 2007) é um filme que foca na força e no poder que a natureza exerce sobre nós, o ciclo da vida é exposto de forma delicada e sossegada. A natureza apresenta suas diversas formas, calma como uma leve brisa a acariciar nosso rosto, ou tempestuosa destruindo tudo que encontra pela frente, além do mistério que a envolve.
Na ilha Amani-Oshima, na costa sub-tropical do japão, há um povoado que é repleto de tradições e que encara a morte com alegria, como um fim de uma vida plena e à integração com a natureza. Eles creem que um deus habita em cada árvore, cada pedra e cada planta. Numa noite de verão, Kaito (Nijirô Murakami) descobre o corpo de um homem no mar, e sua amiga Kyoko (Jun Yoshinaga) vai ajudá-lo a desvendar este mistério. Juntos, aprendem a ser adultos e descobrem os ciclos da vida, da morte e do amor.
Kaito é um adolescente de 16 anos que não tem uma relação direta com a natureza, ele é quieto e não se dá bem com a mãe, seus pais se separaram e foi morar com sua mãe na ilha, é um garoto vindo de uma cidade efervescente e que pouco entende da vida. Certa noite ele encontra um corpo no mar e essa imagem ficará registrada em sua memória, Kyoko ama o mar e nada frequentemente, ela ajuda seu amigo a tentar superar o medo que sente das águas. Em dado momento Kaito diz: "O mar está vivo" e Kyoko responde: "Mas eu também estou", isso representa que para ela não há distinção. Os dois ao longo vão descobrindo o amor e o significado de se tornar adulto. É uma relação que vai crescendo aos poucos e que delineia os medos e os desejos.
Kyoko é apaixonada por seu amigo, já ele não demonstra e carrega um trauma por causa da separação dos pais, não consegue enxergar o vazio que existe na sua mãe e os motivos dela sair com vários homens. Isa, a mãe de Kyoko, é uma xamã do local e está gravemente doente, a morte logo chegará para ela, a dificuldade da menina em ter de lidar com a morte da mãe a assusta, então procura ajuda espiritual com um velho xamã do vilarejo, e este lhe dá conselhos preciosos, como ao dizer que a presença de sua mãe permanecerá acompanhando-a para sempre independente de qualquer coisa.
O filme é recheado de cenas espetaculares, a natureza é a grande personagem, percebemos o quão bonito é quando aceitamos o fato de que nada é eterno, não podemos lutar contra o ciclo da vida, é aquela velha citação: "O velho precisa morrer, para que o novo possa nascer", faz parte da evolução. Numa das cenas finais quando o pai de Kyoko conversa com Kaito a fim de que entenda as circunstâncias de sua vida, compartilha esse pensamento: "Quando surfamos, temos que lidar com o último estágio de uma onda que se originou longe da costa. Ao unir-nos com essa onda, por ser seu último instante, ela carrega uma energia incrivelmente poderosa. Então, quando você sente essa força com todo seu corpo, por um momento, ele se transforma em nada. Nada, ou vazio. De qualquer forma, há a sensação de que tudo, incluindo nós mesmos, permanecemos totalmente serenos". Ele ainda completa dizendo que Kaito precisa ser mais humilde diante a natureza, e que é inútil resistir.
O pai de Kyoko é um personagem que fascina pela sua serenidade ao lidar com tudo no local, o seu amor é transmitido de maneira natural e de tão belas que são suas atitudes chega a nos emocionar. Várias cenas exemplificam, como ao dispor a cama de sua mulher em frente a uma árvore poderosa de mais de quinhentos anos, ou a alegria que ele passa com os amigos e familiares para a esposa à beira da morte, e que consiste numa das cenas mais lindas.
O fato é que temos uma relação distanciada com a natureza, ao invés de sentir que fazemos parte dela. O homem tem a concepção de que é um ser superior, e isso faz com que crie seu próprio declínio, a natureza exerce poder sobre nós, não o contrário.
"Still the Water" é um filme poético, nos faz refletir sobre o amadurecimento e a morte, o ciclo da vida. É um ótimo meio para visualizar a morte por um ângulo mais suave, pois a maioria prefere não pensar nela como se isso pudesse os esconder; o medo e o mistério apavora, mas aprender a lidar é a melhor maneira, aceitar que é um fato inexorável e completamente natural.
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