"Paraíso: Fé" (2012) é o segundo filme da polêmica trilogia intitulada "Paraíso", do diretor Ulrich Seidl. O anterior chamado "Paraíso: Amor" (2012) fala sobre a busca desesperada pela felicidade e o terceiro "Paraíso: Esperança" (2013) é sobre jovens garotas que acreditam que o amor não é uma ilusão. Os filmes de Ulrich Seidl são hiper-realistas e por isso incomodam, as histórias são cruas, abordam o universo feminino e quase sempre a violência está presente.
Em "Paraíso: Fé" a personagem Anna Maria é uma católica fervorosa e fanática, que se flagela, caminha de joelhos pela casa, impreca os pecadores e chega ao ponto de se masturbar com o crucifixo. Anna Maria acha que a felicidade suprema tem de vir da fé. Radiologista durante o dia, no tempo que lhe sobra empenha-se na missão de evangelizar almas perdidas - um casal que vive em pecado, um alcoólatra e outros seres humanos sem rumo. Através da abnegação total dos prazeres carnais, da penitência diária, da tentativa de conversão dos "hereges", da limpeza obsessiva e de orações e cânticos, Anna tenta manter-se afastada do sexo e outros pecados. A sua fé é apenas posta à prova pelo marido que, apesar de impedido de andar, não desiste do seu ideal de amor, que inclui um casamento consumado. Mas Anna é implacável na sua decisão de direcionar a vida e o amor para Jesus. Um sentimento que parece infinito mas não é apenas etéreo.
Anna inconformada com a falta de fé das pessoas reza e pede muito a Jesus, depois de suas visitas a pessoas geralmente perdidas na vida, a maioria imigrantes, bêbados e prostitutas, chega em sua casa e se autoflagela acreditando que livrará o pecado daquelas pessoas. Em um dessas visitas Anna debate com um casal sobre o cristianismo, uma parte interessante do filme em que pontua o quanto Anna estava embebida neste universo religioso, e portanto cega para a razão. Outra cena que demonstra sua loucura é a da orgia, ela segue o barulho dos gemidos e encontra pessoas fazendo sexo no meio do mato, Anna é completamente bitolada, para ser uma verdadeira cristã tem que se abdicar do sexo, mas isso só ajuda ela a pensar ainda mais. Com o regresso do marido fica mais evidente, Nabil é muçulmano e está inválido, necessita de cuidados e acredita que ainda pode recuperar o casamento. Veja o grau em que se encontra esta mulher, Nabil não pode fazer nada e mesmo assim ela foge como o diabo foge da cruz, ele apenas deseja ser abraçado, mas Anna é incapaz de entender.
Com ritmo lento a sensação é de estar espiando, pois a câmera fixa num ponto enquanto alguma situação se desenrola. É um filme seco que retrata até onde é capaz de chegar o fanatismo de uma pessoa. Na questão do pecado, Anna os cometia e nem se dava conta, por exemplo, quando invade a casa de pessoas praticamente enfiando goela abaixo a sua religião sem se importar se fossem ou não católicos, ou com seu marido, a cena em que tira a cadeira de rodas dele e o faz rastejar pela casa é uma violência e tanto. Na verdade, Anna é uma mulher vazia, desacreditada da vida e que encontrou refúgio na religião, cujo único intuito é satisfazer a si própria.
O filme permite grandes reflexões, a quebra de tabus e o que o excesso pode ocasionar na vida da pessoa e para quem está ao lado, tudo é destruído, o egoísmo se sobrepõe cegando o indivíduo. Anna deposita todo o seu amor a Jesus e esse amor é levado ao desejo carnal, ela diz que nenhum homem é mais bonito que ele, e a cena polêmica envolvendo o crucifixo é o ápice. É doentio e digno de pena.
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