"170 Hz" (2011) é um romance dramático holandês do diretor Van Ginkel, que conta a história de dois jovens surdos que tentam encontrar um lugar no mundo para poder viver livremente o amor.
Evy (Gaite Jansen) é filha de pais ricos e leva uma vida tediosa e solitária até conhecer Nick (Michael Muller), um rapaz também surdo que vive como quer, o filme não especifica o porquê de ter abandonado sua família abastada, mas ele é muito revoltado. Nick trabalha em uma oficina mecânica e não tem amigos, podemos observar o quanto de raiva há nele numa cena em que um cara zomba de sua surdez e ele o olha fixamente com o desejo de matá-lo e quase o faz. Depois de um tempo saindo com Evy, ele é chamado para jantar e conhecer os pais da garota, mas os bons modos de Nick não são lá aquelas coisas, no que desencadeia brigas entre a família. O pai de Evy não aceita o namoro e então os dois arquitetam um plano infantil e vão morar em um velho submarino abandonado. A partir daí o filme segue lento, recheado de brigas, confronto de personalidades e muita paixão.
Como o casal protagonista é surdo, o filme todo é trabalhado nas libras e no silêncio, mas isso não quer dizer que careça de força, ao contrário, pois intensifica a ideia de que palavras não são tão necessárias, os olhares e os gestuais ganham grandes proporções e visualizamos cenas esplendorosas, aliás a fotografia é um ponto extremamente relevante, a cena da tinta vermelha, cuja ilustra o poster é uma das mais lindas.
Não dá para saber ao certo o trauma que Nick teve com o pai para ter feito o que fez, mas podemos imaginar algo com as imagens que o filme vai inserindo, já Evy tem uma família que a protege e a fecha do mundo exterior. No jantar o pai de Evy não para de perguntar sobre a família de Nick e diante de todas as formalidades irritantes que acontecem nestes encontros, Nick responde de maneira fugaz, principalmente quando o pai de Evy o questiona sobre ele não colocar o aparelho auditivo. Rudemente ele explica: "Não quero, pois ninguém tem nada interessante a dizer, a não ser Evy".
Claramente palavras não servem de nada, mas é possível ver a melancolia que envolve Evy em relação a sua surdez. Vários momentos exemplificam essa angústia.
"170 Hz" (frequência máxima de um som que Nick consegue captar) é um filme completamente despretensioso ao focar no casal surdo, pois o tema não é explorado de forma que sirva de lição ou algo do tipo. O lado psicológico dá o tom e ele vai ganhando força quando descobertas acontecem e a linha entre amor e obsessão, paixão e violência se tornam muito tênues.
É uma história de paixão intensa em que o mundo parece ser apenas o outro e não se pensa duas vezes ao deixar a vida aparentemente insignificante para trás, porém logo descobre-se outros sentimentos embutidos, além das descobertas acerca do outro. E o que era para ser o "felizes para sempre" acaba dando lugar ao medo, e por fim ao trágico. É um filme que inova nos elementos e nos presenteia com uma fotografia hipnótica que enfatiza ainda mais as emoções e o psicológico dos personagens.
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