"Camelos Também Choram" (2003) está entre os documentários mais lindos e emocionantes que já vi, retrata uma cultura totalmente desconhecida a nós e um tanto quanto excêntrica. Sabemos que para as comunidades que vivem no deserto os camelos são essenciais, e este documentário explora exatamente isso, as adversidades de se viver em um ambiente inóspito, sem muito com o que se preocupar, além das necessidades básicas, e o camelo está entre elas.
Há uma fêmea em particular prestes a dar à luz, que protagoniza toda a história, porém após o parto tão sofrido, ela rejeita o potrinho albino. Então a comunidade tenta de qualquer jeito que a mãe aceite o filhote, mas nada funciona e isso se reflete em seus olhinhos desesperados.
O camelo realmente é um animal curioso, os povos acostumados a eles contam diversas lendas de como foram criados por Deus. Resistentes e leais, apenas espreitam o horizonte sem fim do deserto. É impressionante a determinação das pessoas em fazerem que a mãe o aceite, é feito de tudo, rituais e mais rituais, mas o melhor fica para o final. Segundo a tradição, quando um camelo recém-nascido é recusado pela sua mãe, um músico é chamado para emocioná-la, que com lágrimas nos olhos, aceita então o pequeno camelo.
O documentário também mostra o conflito e a aceitação entre gerações, não somente entre os camelos, mas também entre a família dos nômades. São quatro gerações unidas por um estilo de vida que ainda existe na Mongólia. O episódio de quando um dos filhos, após uma viagem à cidade, pede aos pais que tenham uma TV em sua barraca é um exemplo. Um dos membros mais velhos diz: "Passará a gastar o dia inteiro vendo as imagens no vidro. Isso não é bom!". A sabedoria do homem mais velho não é ouvida, pois nos mais novos o efeito da vida moderna acaba influenciando. A família de fato é verdadeira, vive naquele ambiente e daquela maneira, assim como as situações retratadas, todas acompanhadas pela dupla de diretores, que originalmente queriam fazer um filme sobre o povo do deserto, uma vez que os antepassados da diretora Byambasuren Davaa vem desta linhagem; o drama do jovem camelo rejeitado foi apenas um acontecimento registrado pela câmera.
O estilo de vida totalmente desprendido dos nômades nos chama bastante atenção, tudo é muito simples e verdadeiro, a nossa realidade parece ser ridícula e pequena diante ao mundo deles, afinal não precisamos de muito para sobreviver, mas o documentário é livre de julgamento.
Os camelos são animais melancólicos que parecem sempre esperar por algo, é comum vê-los fitando incansavelmente o horizonte. O registro de amor que esse povo tem pelo animal é singelo e inesquecível.
O documentário busca humanizar o camelo, um animal tão distante da nossa realidade, e de forma completamente leve nos fascina diante o fato de que camelos também choram, e sim, por questões emocionais.
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