"Três Extremos" (2004) é um filme que reúne três histórias distintas, a primeira é do diretor japonês Takashi Miike, "Box" fala sobre uma mulher (Mitsuru Akaboshi) assombrada por pensamentos constantes sobre a morte da irmã gêmea. A segunda é do diretor chinês Fruit Chan, "Dumplings" narra a busca eterna da juventude, uma atriz (Miriam Yeung) que, desesperada para rejuvenescer e atrair de novo a atenção do marido ausente, contrata uma cozinheira (Bai Ling), que lhe promete preparar uma iguaria não apenas deliciosa, mas que tem o dom mágico do rejuvenescimento. E a terceira é do coreano Park Chan-Wook, "Cut" é sobre um diretor de cinema (Lee Byung-Hun), feito refém por um homem misterioso, que lhe põe em uma sinuca de bico: se quiser evitar que a esposa pianista (Kang Hye-Jeong) perca os dedos, precisa estrangular uma criança, presa no mesmo quarto. As histórias mostram as misérias humanas e o quão longe chegamos para obter aquilo que desejamos.
"Três Extremos" dá sequência ao filme "Três" (2002) também seguindo a mesma linha, porém lançado ao grande público bem depois, devido ao sucesso de "Três Extremos". Os temas são perturbadores e qualquer um fugiria deles, mas os realizadores os colocam bem na nossa frente, mostrando o lado mais pérfido do ser humano, o ultrapassar da barreira, a loucura que o toma quando algo lhe invade a mente. Seja remorso, inveja, ou vingança.
É interessante notar as diferenças entre eles, na história japonesa há aquele terror melancólico, puxado para o sobrenatural, na chinesa se observa o apreço das imagens, as cores, as expressões, a protagonista ao mastigar sua refeição da beleza, e no coreano, para quem conhece Park Chan-Wook sabe de sua capacidade para criar histórias de vingança e violência, e mesmo assim conseguir colocar humor na trama.
"Box" é uma história surreal marcada por um momento de inveja e traição, protagonizada por uma jovem tradutora, que tem pesadelos constantes devido a uma situação trágica de sua infância. A força da culpa é expressada da forma mais dolorida. É recheado de simbolismos, de ritmo lento às vezes não sabemos se ela sonha ou vive a realidade, o remorso é por um acontecimento no circo onde ela e sua irmã se apresentavam, sentindo inveja do carinho que sua irmã recebia do pai, ela reagiu impulsivamente causando um acidente, este que a perseguirá pelo resto da vida. Estranhamente seus sonhos e sua realidade podem estar conectados. Imagens de culpa são expostas na tela, há momentos de claustrofobia e muita melancolia. "Box" é um delírio real.
"Dumplings" é para mexer com nosso psicológico e nosso estômago. Uma atriz rica e balzaquiana preocupa-se com a sua vaidade. Sabe que seu marido já não sente mais atração por ela, então decide recorrer a um método um tanto quanto excêntrico. Ela procura uma famosa cozinheira de bolinhos que promete trazer o viço da juventude novamente, mas para isso é preciso aceitar as suas condições, é necessário que ela saiba que o ingrediente principal são fetos, considerados altamente nutritivos. Até onde você iria para ter sua juventude de volta? Uma crítica explícita sobre os limites da vaidade, e a loucura que muitos se submetem em nome dela. "Dumplings" virou um longa-metragem chamado "Escravas da Vaidade" (2004).
"Cut" é sobre um diretor famoso, rico e bonito que é feito de refém por um de seus figurantes, este revoltado por sempre fazer papéis que nunca são vistos, declara que não gosta da cara de bonzinho do diretor. O figurante arquiteta um plano do qual inclui a mulher do diretor amarrada com os dedos presos nas teclas do piano, tudo que o refém tem que fazer é estrangular uma criança sentada no sofá para salvá-la, claro que nem tudo é simples assim, o diretor tenta convencê-lo que não é perfeito, seus valores são colocados em xeque, mas não adianta muito, alguns dos dedos da mulher já foram cortados. É uma trama bem elaborada com reviravoltas espetaculares. Com muito humor negro, a inveja, o ódio, a vingança e a violência se faz presente.
"Três Extremos" serve, sobretudo, para conhecermos três tipos de técnicas de direção, onde todos desconstroem seus personagens a fim de mostrar suas loucuras ocultas, o lado do qual evitamos pensar que existe em cada um de nós. Mesmo que as histórias pareçam bizarras, é inevitável não pensar sobre. O fato de fazer alguém sofrer para obter o que se quer, viver com a culpa, o preço pago para ser bonita e admirada, lidar com a inveja, esconder seus medos, viver de acordo com a imagem criada para si. É uma sucessão de pensamentos que esses três curtas apresentam. É cinema da melhor qualidade!
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