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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Oslo, 31 de Agosto (Oslo, 31. August)

Inspirado no romance de Pierre Drieu la Rochelle, "Le Feu Follet", o filme narra a história de Anders, que está prestes a sair de um centro de reabilitação de drogas no interior da Noruega. Como parte do programa, ele tem o direito de ir a Oslo para uma entrevista de emprego. Mas ele aproveita o dia fora e resolve ficar, andar pelas ruas da cidade e se encontrar com pessoas que não vê há tempos. Com 34 anos, ele é um homem inteligente, bonito e de boa família, mas profundamente atormentado pelas oportunidades que desperdiçou e pelas pessoas a quem decepcionou. Apesar de jovem, ele sente que sua vida já acabou. Durante o dia e no decorrer daquela noite, fantasmas de erros do passado entram em conflito com a possibilidade de um amor, de uma vida nova e da esperança de ver algum futuro até o amanhecer. Oslo, capital da Noruega surge através de imagens com testemunhos de várias pessoas que por lá passaram ou que lá regressaram. Recordações mais ou menos felizes, mas saudosas de uma cidade que lhes diz muito, assim como o protagonista.
Joachim Trier diretor deste filme é primo distante do depressivo e genial Lars Von Trier. Joachim retrata o dilema de um jovem que aparentemente não teria motivos para se envolver com drogas; pais liberais, uma boa casa, uma vida confortável, isso tudo não é mostrado, mas deduz-se facilmente. Anders se perdeu na heroína, antes o que era divertimento, acabou o destruindo. O olhar é sobre o depois, saindo de um período grande de internação, uns seis anos mais ou menos, ele vai para cidade grande, onde fará uma entrevista de emprego para que possa reintegrar-se na sociedade.
A história toda é fria, não tem sequer uma ponta de sentimentalismo, acompanhamos Anders caminhando para o fim, sem ao menos torcermos para sua recuperação, ou que surja um pouco de esperança. Ele tenta o suicídio numa primeira noite de liberdade, mas não consegue. Logo vai visitar um amigo do qual vive uma rotina comum, trabalho, filhos, esposa, compromissos, nada excepcional. Anders está com 34 anos e definitivamente não consegue ver algo que o possa motivar a viver normalmente. Sua entrevista de emprego falha, mas por culpa sua, por jogar no ventilador sua história como dependente, mas sem nem deixar o entrevistador falar algo, simplesmente sai e joga o currículo no lixo. Ele abandonou tudo que tinha, família, amigos, namorada, emprego, e agora não tem como resgatar nada disso, o tempo é cruel da mesma forma que foi cruel consigo mesmo.
A medida que Anders perambula por Oslo vai recordando do passado e das oportunidades perdidas, encontra amigos, colegas, se depara com situações já vividas, e percebe que não há mais o que fazer. Não se sente parte do todo, não é forte o bastante. Em uma cena em um bar de repente encontra com o cara que sua antiga namorada o traiu, pedindo satisfações enfrenta-o, é de dar pena, pois ele não se livrou do passado, é um derrotado no sentido mais literal da palavra. O filme mostra que até pessoas que julgamos serem melhores, que tem tudo para crescer erram o caminho, e principalmente, questiona sobre a esperança de um futuro, a existência, as dúvidas, e as decisões.

Andando por Oslo, Anders percebe que todos têm seus dramas pessoais e dessa forma aprofunda-se em si mesmo. Somos apenas observadores, é desolador assistir a decadência perante o mundo que o cerca. Anders é um homem complexo, ele acima de tudo busca um significado para sua existência, ele nem deseja ter a vida igual ao do amigo, com filhos, esposa e emprego. Ele busca algo maior, que está além do entendimento, e não é à toa citarem Proust (Em Busca do Tempo Perdido) algumas vezes. Parece que Anders não está apenas inconformado com si mesmo e com as suas perdas, na verdade, a sua angústia é com o meio em que vive, o todo.

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