Dirigido pela sul-coreana Ounie Lecomte e protagonizado pela adorável Sae-Ron Kim, o filme nos traz uma história triste, mas com um final repleto de esperança.
Jin-Hee tem nove anos e é levada pelo pai para um orfanato de freiras católicas em Seul. Ela resiste o quanto pode, sem acreditar que o pai que tanto ama vai abandoná-la. Lá, as crianças esperam pela adoção e pelo começo de uma vida nova. Jin-Hee se adapta aos poucos e faz amizade com Sook-Hee, de 12 anos, com quem aprende diversas brincadeiras. Apegada ao ambiente do orfanato e com esperança de que seu pai volte para pegá-la, a menina faz de tudo para evitar a adoção. E assim não ter que enfrentar outra separação.
O filme é feito de sutilezas, das quais a pequena Jin-Hee expressa muito bem, no início acompanhamos uma garotinha feliz por estar perto do pai, seu sorriso explica o quanto ela o ama, quando juntos andam de bicicleta, compartilham a comida, mas essa alegria logo acabará. Vemos o rosto do pai apenas quando a deixa no orfanato, sem dó ele vai embora deixando a menina juntamente com outras crianças para serem adotadas. Daí o sorriso iluminado desaparece e dá lugar para a tristeza e a esperança de que ele volte algum dia. Demora para que ela entenda que não voltará. Silenciosa na maior parte do tempo, com lapsos de raiva, Jin-Hee percebe que sua vida tomará outros rumos, mas para isso é preciso aceitar as circunstâncias.
A atriz mirim Sae-Ron Kim dá um show de interpretação, sem apelar para melodramas, nos cativa e faz com que torçamos para que ela entenda toda a situação e olhe pra frente. E isso começa a acontecer quando se torna amiga de Sook-Hee, uma garota que deseja muito ser adotada, simpática logo faz com que a pequena Jin-Hee volte a sorrir com suas brincadeiras. Só que esse período dura pouco, pois Sook-Hee é adotada, e assim Jin-Hee volta para seu mundinho pensando apenas no momento em que seu pai irá buscá-la.
Não questionamos a situação, o que importa é o momento, as etapas que a menina passa. Um olhar ingênuo sobre o abandono, a angústia de uma criança que só com o olhar passa a dor de ficar só e o desespero do que virá. A adoção é apenas uma alternativa, no orfanato é bem recebida, não tem maiores problemas, se apega as crianças e a rotina. E ao final parece estar preparada para um novo caminho. O grupo de crianças de "Uma Vida Nova em Folha" é surpreendente, elas dão verossimilhança para a história que está sendo contada, como as meninas maiores com seus dilemas, que quanto mais perto do período em que se tornam mulheres, a adoção se faz mais difícil.
Jin-Hee na sua inocência acreditava que foi abandonada por causa do alfinete. Certa vez ela espetou a perna do bebê de sua madrasta, mas ela jurou que não foi de propósito, porém acredita que seu pai a condenou por isso. É nestes pequenos diálogos que vemos que ela é apenas uma garotinha que necessita de carinho e cuidados, inocente, mas muito inteligente ela vai compreendendo que a vida pode dar muito mais para si.
É um longa cuja delicadeza predomina, nos toca de maneira sutil e inevitavelmente vai surgindo sentimentos bons enquanto o assistimos. Apesar de triste o final nos conforta. Jin-Hee abre um sorriso igual aquele do início, e é aí que percebemos que está pronta para uma uma nova fase.
Será possível conseguir uma vida nova em folha e realmente apagar todo o passado? Jin-Hee esquecerá o abandono do pai? Não completamente, mas o tempo é a melhor solução, não cura, mas cicatriza, nos possibilita vislumbrar novos horizontes e nos dá a capacidade de aprender. As coisas boas devem prevalecer em cima das ruins, não dá para viver pensando nos traumas, até porque é através deles que acontecem as mudanças.
"Uma Vida Nova em Folha" retrata temas como abandono, solidão e esperança sob o ponto de vista infantil e o como a realidade é encarada pela mesma, e como as pequenas coisas podem ser consideradas motivos desencadeadores de situações ainda mais sérias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
SE FOR COMENTAR, LEIA ANTES!
NÃO ACEITO APENAS DIVULGAÇÃO.