Baseado no livro de Marçal Aquino, o filme acompanha a chegada do fotógrafo Cauby (Gustavo Machado) a uma pequena comunidade amazônica e o seu romance/obsessão por Lavínia (Camila Pitanga), esposa do pastor Ernani (ZéCarlos Machado). O drama se dá na região amazônica, mas nenhum dos três a ela pertence. Vieram de outra parte do país, o sudeste. Cauby, por motivos misteriosos, mas pode-se supor que seja aventureiro da alma, um ser errante, desses que desejam ver coisas novas, pessoas diferentes, imergir numa cultura alheia. Também de outra parte, e de outras circunstâncias vêm Lavínia e Ernani, essas serão em partes esclarecidas ao espectador em flashbacks que surgem na metade do filme com cortes secos e súbitos, que a princípio desconcerta.
Lavínia é uma mulher de nuances, multifacetada, de um passado misterioso, ela se transforma em várias ao longo do filme. Lavínia é posse de Cauby, faz dela objeto, como vemos no início sendo fotografada por ele, Ernani tem em Lavínia uma musa, uma mulher que mudou por causa de seu dom, o de poder transformar alguém pela palavra. Há muitas cenas de sexo, das quais fazem todo o sentido, são naturais, sempre se dando depois de uma certa apreciação do corpo. No caso de Cauby depois de fotografá-la ou com Ernani depois de orar por ela. Mas há certos momentos que o filme parece perder um pouco a poesia que o título anuncia e fica tudo muito distante, aleatório. É perdido a essência.
Camila Pitanga está exuberante e ao mesmo tempo de uma delicadeza que realmente impressiona, ela de fato se entregou e imagino o quanto essa personagem deve ter sugado de si. As cenas finais mostram muito o seu potencial. Não tiro méritos do filme, ele é interessante, uma história contada de maneira diferente, mas não reflete totalmente a essência do livro.
A fotografia se destaca, além das interpretações, porém a história fica no ar e às vezes destoa do contexto. Todo o misticismo em relação a comunidade e o assunto sobre o desmatamento surge de maneira desconexa na trama, mas o maior problema é o clima de tensão que é quebrado diversas vezes, cenas que perdem a força e que deveriam ser visualmente mais elaboradas, como o momento que Ernani morre e Cauby vai preso, e ao sair leva uma pedrada sendo acusado pela comunidade. Isso tudo não chega a prejudicar, mas não nos aproxima e não nos encanta completamente.
Sucesso de crítica, mas não do grande público, é preciso dosar, ver os pontos positivos e saber lidar com os negativos. Esse filme teria muito mais potencial, os personagens são complexos e isso não foi dado aos nossos olhos, foi mostrado um triângulo amoroso complicado de modo simples. A beleza visual excêntrica acaba por chamar mais a atenção do que a própria trama. A poesia se concentra apenas no título, mas mesmo assim vale pelo seu diferencial.
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