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segunda-feira, 14 de julho de 2014

C.O.G.

Baseado no conto autobiográfico de David Sedaris, "C.O.G" (2013) segue Samuel (Jonathan Groff), que após sua graduação na Yale mergulha no "mundo real" e vai trabalhar no interior de Oregon em uma fazenda de maçãs sob um pseudônimo, lá acaba não se encaixando entre os trabalhadores migrantes e os moradores locais profundamente religiosos. Samuel começa uma jornada que irá levá-lo a um território desconhecido e por vezes bem-humorado, onde encontra pretensos benfeitores.
Samuel inicialmente é descrito como um jovem arrogante, mas na verdade ele está perdido e carente, não nos é mostrado o seu passado e o porquê decidiu colocar o pé na estrada e abandonar sua vida. O fato é que ele precisava se encontrar e nada melhor do que arriscar para se conhecer. O plano seria ir com sua amiga, mas esta desiste e o deixa bem triste, daí por diante ele passa por diversas situações estranhas.
Todos do lugar ficam questionando o motivo de um rapaz tão inteligente que tem tudo pra ter uma vida bacana estar colhendo maçãs, Samuel parece um peixe fora d'água, mas isso não o faz desistir. Logo é mandado para a fábrica, pois segundo o patrão ele pode ser útil em outro tipo de trabalho, então vemos em vão o seu esforço para fazer amizades, há muito preconceito envolvido, ele é alvo de piadas e é tomado como um jovem presunçoso.
Percebemos ao longo que Samuel tenta ser aceito, as ligações feitas a sua mãe exemplificam, fica claro que ele é gay já no começo e também muito suscetível, apesar de defender suas ideias fortemente, principalmente sobre religião. Depois do episódio em que é assediado sexualmente por um colega de trabalho, ele foge e procura ajuda de Jon (Denis O'Hare), um ex-combatente de guerra, que certa vez lhe deu um panfleto sobre a corrente religiosa C.O.G. Hospedado na casa da família de Jon ele vai se deixando levar pela bondade exercida por eles.
Aos poucos Samuel que se dizia ateu começa a mostrar que quer se tornar um C.O.G, e é realmente incrível a mudança que acontece. O personagem Jon é caricato no que diz respeito àquelas pessoas fanáticas que agradecem a Deus por coisas ínfimas, chega a ser irritante esta parte do filme, e até apelativa, porém extremamente necessária para mostrar o quanto de mentira há nessa bondade dada a Samuel. É óbvio que a vulnerabilidade dele o fez tomar a decisão na cena em que ele se levanta na igreja, se ajoelha perante o padre, e diz ter encontrado Deus, não parece ser a mesma pessoa, aquela do início que dizia que religião era uma espécie de muleta.

Jonathan Groff faz um personagem interessante e muito sensível, de arrogante não há nada. O ser humano tem um necessidade chata de criar padrões, como por exemplo, Samuel é americano, branco de classe média alta, inteligente, formado numa boa universidade, então o lugar dele jamais seria em uma fazenda de maçãs. Estereotipar é algo ofensivo.
O filme tem uma narrativa sinuosa, ela te faz pensar uma coisa, e de repente ao fim te dá outra completamente diferente, o que combina muito bem com a tal bondade que não só os cristãos oferecem, mas como tantas outras religiões, a pessoa coloca uma máscara e fala palavras de conforto, só que tudo de maneira obrigatória, como se isso fosse levá-la ao paraíso. Para fazer o bem não é preciso pensar e crer que sendo "bom" o levará a algum lugar ou lhe trará benefícios, o nome disso é egoísmo, Jon demonstrou a sua verdadeira face ao final, renegando Samuel por ser gay. Fiquei com um nó na garganta ao ver Samuel mais uma vez perdido caminhando por uma estrada que talvez não o levará a lugar algum.

"C.O.G" é um filme válido e realista, disserta sobre a natureza humana, o preconceito e a religião, mas o melhor é que não tenta te convencer de nada, simplesmente mostra o quão podre o outro pode ser em relação a algo que julga não ir de encontro com a dita moral.
"Quando se navega sem destino, nenhum vento é favorável."

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