"The Banshees of Inisherin" (2022) dirigido por Martin McDonagh (Três Anúncios Para um Crime - 2017) é um filme que exala solidão e um existencialismo potente que nos faz rir de desespero, particularmente a narrativa me conduziu como se estivesse lendo um livro, devagar e com intervalos contemplativos belíssimos, quadros melancólicos e que evoluem à medida dos acontecimentos cotidianos e mal-entendidos risíveis. Apesar da erma ilha aparentar uma certa paz e o tédio controlar a vida de seus habitantes, do outro lado o estrondo da guerra civil está a todo vapor. Situado numa ilha remota na costa oeste da Irlanda nos idos dos anos 20, acompanhamos um impasse entre os amigos de longa data Pádraic (Colin Farrell) e Colm (Brendan Gleeson). Inesperadamente Colm põe fim à amizade deles e Pádraic fica desesperado amparado pela sua irmã Siobhán (Kerry Condon) e pelo problemático jovem Dominic (Barry Keoghan), esforçando-se para recuperar o relacionamento e recusando-se a aceitar um não como resposta, os esforços repetidos de Pádraic apenas fortalecem a determinação de seu ex-amigo e, quando Colm entrega um ultimato, os eventos sucedem-se rapidamente com consequências inesperadas. O rompimento dessa amizade também atinge outros habitantes da ilha fazendo com que encarem o próprio abismo, como Dominic, um rapaz que sofre violências por parte do pai e que é esnobado pela irmã de Pádraic. Colm está cansado de tudo e diante da finitude da vida dedica seus dias a deixar um legado através da arte, já o ingênuo Pádraic se apega ao raso da vida, simples e gentil atravessa seus dias de puro nada, seu relacionamento com a irmã às vezes o traz para realidade, já que Siobhán quer sair da ilha por não aguentar mais o barulho que o silêncio faz. A situação simplesmente vai se transformando em algo desesperador para Pádraic, teimoso insiste em ir atrás de Colm e o segue pelos lugares e não aceita que o amigo tenha parado de gostar dele. A simplicidade desse personagem aos poucos vai sendo substituída por atitudes chatas e vergonhosas, até surgem sentimentos de pena ou graça, mas à medida que a narrativa transcorre também percebemos o endurecimento desse personagem, ele vai perdendo a ilusão e começa a articular maldades.
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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023
The Banshees of Inisherin
É um filme primoroso, os diálogos que proporcionam reflexões, a fotografia e o cenário imenso dessa ilha repleta de pedras confluindo com a solidão que cada personagem sente, a angústia nos olhos de Pádraic pelo fim da amizade, sua insistência chata, seu amor por Jenny, sua mini mula que também é afetada por essa guerra travada entre os dois. Pádraic é limitado e amarrado ao lugar que mora, sua ilusão de felicidade é quase ingênua pela falta de conhecimentos acerca de tudo, ele leva a vida de modo rudimentar, o que irrita Colm, que nessa fase de vida já não quer perder tempo com bobagens e até engraçado quando diz que Pádraic é mais interessante bêbado.
Há muitos aspectos e nuances que podemos trazer para nosso cotidiano, amizades desfeitas do nada, a falta de profundidade nas relações, a solidão mascarada por inúmeros artifícios/vícios, o tédio, angústias e ansiedades geradas a partir de expectativas que os outros depositam em nós, etc. A melhor personagem que encara com inteligência o meio em que vive e tem uma tomada de decisão perspicaz é Siobhán, ela é sincera ao dialogar, encara seus medos e suas peculiaridades e se move antes de ter seu ser corrompido ou destruído.
"The Banshees of Inisherin" é uma crônica excêntrica e por vezes absurda e apesar de ter um tom cômico, na verdade, é triste e desesperançosa, sua melancolia atinge em cheio ao nos colocar diante da solidão e das complexidades que abrangem a finitude da vida.
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