"High Life" (2018) dirigido por Claire Denis (Deixe a Luz do Sol Entrar - 2017) não é um filme de meio-termo, ou ele gera encantamento ou aborrecimento, a história explora o espaço de forma diferente da usual e capta toda a complexidade das relações humanas, é bastante imersivo e reflexivo, divaga sobre a solidão, o vazio e a decadência da existência humana.
Um grupo de criminosos aceita um acordo para trocar suas penas pela participação em uma missão espacial à procura de energias alternativas, mas a viagem toma rumos inesperados quando uma tempestade de raios cósmicos atinge a nave.
Acompanhamos Monte (Robert Pattinson), sozinho em uma nave espacial rodeado apenas por uma desolação assustadora e um silêncio profundo, ele cuida de sua bebê, Willow, enquanto mantém uma rotina para dominar o desespero, a narrativa inicial intriga com seus mistérios e aos poucos a história vai se descortinando, a linha do tempo se quebra a todo instante para que compreendamos os motivos de Monte estar solitário na nave. A tripulação desta nave, todos condenados à pena de morte, tiveram a escolha de poder participar de uma experiência espacial cuja missão era encontrar o buraco negro mais próximo da Terra, na esperança de obterem liberdade se deparam com um imenso vazio cruel e bizarro, entre eles está a líder, Dra. Dibs (Juliette Binoche), perversa ela utiliza todos como cobaias para suas experiências de inseminação artificial, Monte é o único que se priva e mantém uma disciplina para controlar seus desejos sexuais, o restante regularmente se satisfaz e tomam medicações, enquanto isso observamos as relações que se tornam cada vez mais tensas e insanas dentro da nave, o instinto de sobrevivência, a maneira de se encarar os desejos e a obsessão por reprodução de Dibs vão sugando a vida de cada um, o único elo ainda com a Terra é um jardim que é capaz de resgatar as emoções, mas aos poucos isso também vai sendo deixado de lado por quase todos. Impressiona a visceralidade poética das cenas, até mesmo nas mais esquisitas e violentas. Acaba que Monte sem querer se torna pai, a insana Dibs o entorpece e coleta o seu sêmen e o introduz em Boyse (Mia Goth), que repelia esses processos, a Dra. acreditava que eles dois tinham a melhor genética. Isso detona Boyse e logo após o nascimento entra numa espiral de desespero, ela não consegue lidar e só deseja sair disso tudo, seu desfecho é um dos mais perturbadores, a cena é realmente petrificante. A desesperança e a onda de violência toma conta de vez e os tripulantes não dão conta de suportar mais esse ambiente claustrofóbico, vemos os desfechos de cada um acontecendo e o único a manter-se é Monte, cuja responsabilidade com Willow cultiva um fino fio de esperança.
Claire Denis entrega um filme de ficção científica fora dos padrões, não há o tão característico sentimento de conquista por algo, mas sim a sensação de abandono e a reflexão das ações dos seres humanos, sejam elas medíocres ou afetuosas e, claro, também de nossa pequenez diante o universo. Hipnotiza pelo charme e gera angústia pelas atrocidades, além de promover dúvidas e colocar-nos a refletir na existência humana e todos os seus conflitos de emoções; as cenas do espaço e sua imensidão são bem bonitas, as estrelas, o escuro, e o buraco negro ao final impressionam. Robert Pattinson está maravilhoso como o calado e disciplinado Monte, ele mescla momentos de apatia e esperança, sua relação com Willow encanta, seu instinto paternal em meio à desolação, a rotina que o mantém vivo também é capaz de levá-lo à loucura, são nuances interessantes e que deixam muitas perguntas e abrem questionamentos diversos, não é à toa que quanto mais se pensa na história mais intrigante fica.
"High Life" proporciona momentos únicos e arrebatadores a cada espectador, e ao fim ficamos perdidos com uma mescla de agonia e suavidade, sem dúvidas, um filme provocante, denso e primoroso. Vale mencionar a bela e atmosférica trilha sonora e destaque para a canção "Willow", interpretada por Robert Pattinson.
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