"Arábia" (2017) dirigido por Affonso Uchoa e João Dumans (A Vizinhança do Tigre - 2014) é um filme nacional impressionante e impactante por abordar com realidade e imenso naturalismo a vida difícil de um homem à margem da sociedade que se desloca pelo interior de Minas Gerais em busca de empregos, todos eles sempre braçais e extremamente pesados e nocivos à saúde, o protagonista narra sua história e com bastante atenção acompanhamos sua trajetória simples e melancólica, preso a uma bolha social não há nenhum indício de que sua vida irá de alguma maneira mudar, não existe sequer um fio de esperança, é um retrato contundente de um operário engolido pelo sistema de trabalho opressivo cuja falta de humanização é destruidora.
Em Ouro Preto, Minas Gerais, um jovem (Murilo Caliari) encontra por acaso o diário de um operário metalúrgico que sofreu um acidente e por suas memórias embarca numa jornada pelas condições de vida de trabalhadores marginalizados. Há um prólogo que nos faz conhecer o local, a vila operária de uma fábrica siderúrgica, lá encontramos um adolescente e seu irmão mais novo, sozinhos sobrevivem em meio a fumaça, a solidão, ao alheamento e a ausência de um adulto incomoda, não se sabe onde está a mãe desses meninos, apenas a tia os visita. Depois que Cristiano se "acidenta" na fábrica esse jovem a pedido da tia vai na casa dele e lá encontra um diário, aí então embarcamos numa jornada penosa e claustrofóbica.
A trama nos conduz em uma espécie de road movie ao longo de dez anos da vida de Cristiano, que segue sua vida buscando empregos após sair da prisão, primeiro embarca para o interior a fim de trabalhar colhendo mexericas, o que acaba não rendendo absolutamente nada, praticamente é uma troca por um alojamento medíocre em que dorme no chão, a demanda pela fruta está baixa e o patrão diz que não tem dinheiro para pagá-lo e o manda embora. Depois pega a estrada e começa a trabalhar na duplicação da BR-381, lá faz alguns amigos e contemplamos momentos simplórios, mas muito significantes na maneira em que Cristiano os narra, ele diz sobre suas andanças, suas diversas cansativas funções, lugares onde dormiu, as pessoas que conheceu e também a sua sensação de perda de tempo quando não está trabalhando e, por fim, a solidão, sua fiel companheira, os laços que forma nesses trabalhos logo são perdidos e o que resta são apenas memórias. Aristides de Souza brilha em cena e se revela um grande talento, ele possui semelhanças com seu personagem, já que passou por alguns empregos parecidos e também é ex-presidiário.
A trama nos conduz em uma espécie de road movie ao longo de dez anos da vida de Cristiano, que segue sua vida buscando empregos após sair da prisão, primeiro embarca para o interior a fim de trabalhar colhendo mexericas, o que acaba não rendendo absolutamente nada, praticamente é uma troca por um alojamento medíocre em que dorme no chão, a demanda pela fruta está baixa e o patrão diz que não tem dinheiro para pagá-lo e o manda embora. Depois pega a estrada e começa a trabalhar na duplicação da BR-381, lá faz alguns amigos e contemplamos momentos simplórios, mas muito significantes na maneira em que Cristiano os narra, ele diz sobre suas andanças, suas diversas cansativas funções, lugares onde dormiu, as pessoas que conheceu e também a sua sensação de perda de tempo quando não está trabalhando e, por fim, a solidão, sua fiel companheira, os laços que forma nesses trabalhos logo são perdidos e o que resta são apenas memórias. Aristides de Souza brilha em cena e se revela um grande talento, ele possui semelhanças com seu personagem, já que passou por alguns empregos parecidos e também é ex-presidiário.
O filme retrata com potência as consequências de se viver em função do trabalho, a dura realidade que mecaniza seres humanos e que diminui a expectativa de vida, por falta de opções e presos a uma condição social miserável aceitam por não conseguirem enxergar além, Cristiano aos poucos encontra a lucidez e entende o que esse tipo de trabalho ocasiona, é destruidor seus pensamentos ao fim do filme.
"A nossa vida é um engano, a gente sempre vai ser isso e tudo o que a gente tem é esse braço forte e a nossa vontade de acordar cedo".
A fotografia é um ponto de destaque, assim como a trilha sonora com canções como "Raízes", de Renato Teixeira, "Três Apitos", de Maria Bethânia, a linda "Blues Run the Game", de Jackson C. Frank, além de quando Cristiano canta "Homem na Estrada", de Mano Brown, são músicas que representam perfeitamente a aura da história.
"Arábia" possui um ponto de vista que mescla crueza e sutileza para retratar o cenário de um trabalhador que nunca descansa, que sempre está em movimento, que pauta sua vida em razão do trabalho, que pensa somente em sua sobrevivência e que vive de incertezas alheio a outras esferas da vida. O semblante e a fraqueza de Cristiano ao final juntamente com seu momento de lucidez, como ele próprio descreve: "foi como acordar de um pesadelo", fica cravado na nossa mente e traz um sentimento de tristeza e desesperança. Uma obra-prima nacional que tem um grande valor político-social.
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