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quinta-feira, 16 de maio de 2019

Uma Terra Imaginada (A Land Imagined)

"Uma Terra Imaginada" (2018) dirigido por Yeo Siew Hua (A Casa de Palha - 2009) é um filme com uma narrativa alegórica, sensorial e enigmática, retrata a vida castigada de imigrantes que labutam e sonham em ter um lar, o sofrimento, a solidão e uma ponta de esperança marcam essa interessante obra que está disponível no catálogo da Netflix.
Em Singapura, um detetive investiga o desaparecimento do imigrante chinês, Wang (Liu Xiaoyi). Aos poucos, o oficial descobre que o homem tinha uma rotina de tensão e ansiedade, preocupado com a possibilidade de ser deportado enquanto aguentava a árdua jornada de trabalho como funcionário de uma construção civil. O detetive decide ir até uma lan house que Wang frequentava toda noite, e lá encontra Mindy (Yue Guo), anfitriã do estabelecimento. 
É necessário imergir na história para captar todos seus detalhes, pois sua narrativa não é direta e são os detalhes que fazem a diferença, as imagens nos dizem muito mais que os diálogos, assim como o olhar e o comportamento dos personagens. Adentramos na vida de um imigrante chinês, Wang, que trabalha em Singapura numa empresa de aterramento marítimo, o trabalho é pesado e as condições precárias, um dia ele se machuca e acaba sendo remanejado para dirigir um caminhão levando outros trabalhadores, sempre recluso e calado sua única distração é ir em uma lan house e conversar com a moça que trabalha lá. Em paralelo vemos um detetive refazendo todos os passos de Wang, que desapareceu misteriosamente, ele sente alguma identificação, principalmente por ambos sofrerem de insônia e a solidão que permeiam suas vidas. São essas duas linhas narrativas, ora mostrando Wang, ora o detetive, que cada vez mais se afunda nas possíveis pistas e intrigado chega num ponto em que tudo se mistura como num sonho. 
Com estilo noir e ritmo pacato embarcamos em uma história com boas doses de realismo e camadas de críticas sociais envolvendo as condições de trabalho dos imigrantes em Singapura, a solidão que os atinge e a sensação de não pertencimento, além de expor um lado caótico desse local considerado super desenvolvido e moderno tudo por conta da expansão agressiva e massiva do aterro marítimo, que mesmo com todos os possíveis danos climáticos e ambientais o governo pretende expandir ainda mais. Seu maior triunfo é fugir completamente do estereótipo vendido nos panfletos de turismo, por trás de toda a riqueza existe um universo miserável cujas pessoas exploradas sonham um dia poder ter espaço em algum canto, e é por conta dessa ambientação sombria nesses locais de aterramento marítimo que o longa consegue passar uma sensação de incômodo e tristeza. A realidade esmaga assim como as toneladas de areia que fazem o mar desaparecer.

O filme pode entediar em várias partes e causar sentimentos de incompreensão, mas a importância do cenário e o que ele representa faz a diferença para captar o personagem, veja que quanto mais o detetive busca informações e visita o local mais angustiado fica, existe um abismo entre a imagem turística da ilha para o que é a realidade por trás disso tudo, em prol do desenvolvimento esses trabalhadores são expostos a condições horríveis e opressivas, o patrão chega a confiscar os passaportes para que não tenham a liberdade de ir e vir, e enquanto ao redor tudo muda e se expande para um suposto melhoramento eles se apequenam diante o poder e a grandeza que tudo isso emana.

"Uma Terra Imaginada" retrata a vida miserável dos imigrantes em Singapura, que é conhecida pelo seu alto desenvolvimento e riqueza, mas em contrapartida a desumanidade, a solidão, a angústia, a sensação de não pertencer a nenhum lugar e a falta de perspectiva é o que resta a estas pessoas que se desdobram em serviços escravizantes e que acabam esmagadas pelas gigantescas obras que levantam. Por mais que seja uma história confusa e seus personagens por vezes se embaralhem numa aura de sonho o seu teor duro e real permanece.

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