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quinta-feira, 14 de março de 2019

A Favorita (The Favourite)

"A Favorita" (2018) dirigido por Yorgos Lanthimos (O Lagosta - 2015, O Sacrifício do Cervo Sagrado - 2017) é um filme sarcástico e exuberante sobre os jogos de poder políticos e amorosos entre três mulheres dentro de uma corte baseando-se em parte na era da Rainha Anne, que reinou a Grã Bretanha entre 1707 e 1714, durante as guerras da Inglaterra contra a França.
Na Inglaterra do século XVIII, Sarah Churchill, a Duquesa de Marlborough (Rachel Weisz) exerce sua influência na corte como confidente, conselheira e amante secreta da Rainha Ana (Olivia Colman). Seu posto privilegiado, no entanto, é ameaçado pela chegada de Abigail (Emma Stone), nova criada que logo se torna a queridinha da majestade e agarra com unhas e dentes à oportunidade única.
Com uma linguagem peculiar e visão pessimista da humanidade o diretor grego vêm se destacando e ganhando cada vez mais notoriedade, "A Favorita" é sua obra mais palatável, mas continua firme com suas características tão inventivas e extraindo de seus atores performances de tirar o fôlego. 
Acompanhamos a frágil e carente Rainha Ana, que deposita toda a sua confiança na Duquesa de Marlborough, que mesmo tendo um sentimento aparentemente verdadeiro a manipula para os próprios interesses políticos, Ana sofre de dores constantes da gota, pelas inconstâncias de humor e por ter passado por 17 gravidezes malsucedidas, o pouco de afeto e consolo encontra nos encontros sexuais com a astuta Sarah, que de fato governa o rumo do país, Ana não consegue articular as palavras diante do conselho e não possui pulso firme, é tida como uma pessoa volúvel e fraca. Sarah então se aproveita e toma as decisões, até que a jovem Abigail, prima distante de Sarah, vinda de uma família falida, chega e começa a trabalhar como criada e aos poucos sua sede de poder se manifesta sob maneiras ardilosas, ela percebe que conseguindo a atenção da rainha recuperará seu posto e novamente ascenderá perante a sociedade. Abigail consegue rapidamente com sua doçura e dedicação fazer com que a rainha a note e a coloque numa posição melhor, ao lado dela se torna mais fácil a manipulação ao preencher a ausência de Sarah, logo a rainha se encanta e se envolve sexualmente com Abigail colocando em risco a posição de Sarah. A briga de egos é travada com diálogos afiados, cínicos e personagens multifacetadas compostas com primor, as três têm seu espaço e funcionam com perfeição juntas, protagonistas gloriosas.

Olivia Colman emprega em Ana só com o olhar sentimentos de ciúme, tristeza, raiva, impotência, carência extrema e sua histeria domina a tela, são momentos incríveis em cena, uma potência, Emma Stone surge com sua doce Abigail e cativa a inconstante rainha pela atenção e dedicação, além de seduzi-la e propiciar momentos de prazer, é uma personagem que vai descortinando pouco a pouco suas ambições, Rachel Weisz compõe uma mulher fria que possui o poder e o domina com maestria, os homens retratados na corte são exibidos de forma patética com suas perucas e maquiagem, e sempre se encontram em segundo plano fofocando e se distraindo com coisas bizarras. O único que tem mais ênfase é Robert Harley (Nicholas Hoult), que faz oposição ao governo e termina se aliando a Abigail. Todos dentro da corte se valem de seus status para se beneficiarem e trocarem favores, situações que vão se ampliando e mostrando até onde o ser humano vai para obter mais e mais poder e, ainda pior, retrata que mesmo rodeados de glamour a decadência sempre está à espreita e tudo o que se fez para chegar até ao topo se transforma numa grande chacota.

"A Favorita" é o primeiro filme de Lanthimos cujo roteiro não foi escrito por ele e seu brilhante parceiro Efthymis Filippou, mas a inconvencionalidade e o absurdo está presente, claro que não em grandes doses como nos anteriores, mas permanece e tomara que nunca se dissipe toda a estranheza que suas obras produzem. 
É um filme ácido que retrata de forma diferenciada o cenário da aristocracia e a pompa do ambiente real, seus figurinos exuberantes e maquiagem esdrúxula expõem personagens frágeis, artificiais e exageradas disputando poder político, amoroso e fazendo qualquer coisa em prol de suas ambições. O que de fato não mudou até hoje, apenas se alteraram cenários, roupas e máscaras. 

Um comentário:

  1. Não é um estilo que esteja entre os meus favoritos, por isso ainda não conferi.

    É muito bom ver o sucesso da atriz Olivia Colman, que também teve grande desempenho na série policial "Broadchurch".

    Abraço

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