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quinta-feira, 21 de junho de 2018

Anistia (Amnistia)

"Anistia" (2011) dirigido por Bujar Alimani (Chromium - 2015) é um filme melancólico que retrata as deficiências que assolam a Albânia, o desemprego, o machismo, as burocracias, a violência, entre tantas outras coisas. A narrativa tem um ritmo lento e poucos são os diálogos, a protagonista exibe pelo olhar toda a sua tristeza, medo e desesperança. O tom escuro do longa amplia a sensação de desalento e questões existenciais são desencadeadas a partir dos dilemas vividos. 
A visita íntima é finalmente legalizada na capital da Albânia, Tirana, e uma vez por mês Elsa (Luli Bitri) desloca-se por vários quilômetros para passar alguns momentos com o marido encarcerado por conta de alugueis não pagos. Essa jornada permite que ela se aproxime de Shpetim (Karafil Shena), marido de uma detenta, presa por falsidade ideológica, mas uma anistia aos presidiários atrapalha o nascimento deste novo amor.
Visualizamos os trâmites e o modelo prisional no início e a visita íntima sendo legalizada no país, que acaba sendo uma obrigação, Elsa se desloca do interior para a capital afim de visitar seu marido e consumar o ato, que em nenhum momento é visto como algo bom, ao contrário, seus olhar sempre está vazio e seu corpo inerte, há inúmeras questões que permeiam o sofrimento de Elsa, nada é expressado e por isso exige sensibilidade do espectador para compreender a protagonista, a desestrutura familiar, a falta de dinheiro para criar os filhos, o sogro extremamente machista, a rotina obrigatória de se deslocar até Tirana, as mentiras que conta para ocultar a prisão do pai para os filhos, as consequências emocionais são fortes e não parece haver sentido em sua vida. As coisas tomam outro rumo quando ela conhece Shpetim, que também prova do sofrimento da perda de sentido, a mulher presa e as visitas íntimas preestabelecidas, as burocracias do sistema, quando eles se conhecem ao acaso a paixão timidamente se aproxima, as cenas de Elsa e Shpetim se amando nunca são mostradas e os rostos de seus respectivos cônjuges também não, pois a história quer nos mostrar que não importa o desejo pessoal, sem autonomia um recomeço com um novo marido é impossível e perigoso, como bem retratado pela figura do sogro. Com essa impossibilidade de prosseguir seus sentimentos tornam-se culpa e vergonha, uma nova carga de sofrimento pende sobre suas costas e a desesperança surge ainda mais forte quando o governo declara anistia e tanto o marido de Elsa como a esposa de Shpetim retornam ao lar.

"Anistia" é introspectivo e denso, causa aflição observar a vontade de Elsa em tentar ter sua liberdade e sempre encontrar alguma barreira social, quando ela resolve ir morar em Tirana na casa de uma colega e consegue um emprego há um lampejo de confiança, a parte que ela diz que precisa resolver algumas coisas para a colega demonstra o quanto está se sentindo segura, pois ela se mostra almejando o futuro, o que infelizmente logo se desfaz, seu sogro a obriga a voltar com os filhos para casa, seu marido retorna e desiste do amor. Apesar do filme ser cadenciado e não revelar quase nada com palavras, a angústia da personagem transpassa a tela e a compreendemos, seu final seco impacta e permanece conosco por um bom tempo.

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