"Lady Macbeth" (2016) dirigido pelo estreante William Oldroyd é baseado no livro "Lady Macbeth do Distrito de Mtsensk" do escritor russo Nikolai Leskov, que por sua vez se inspirou na personagem da peça de William Shakespeare, o filme traz uma abordagem interessante e aguda sobre preconceitos e empoderamento feminino.
Katherine (Florence Pugh) está presa a um casamento de conveniência. Casada com Boris Macbeth (Christopher Fairbank), a jovem agora se vê integrante de uma família sem amor. É só quando ela embarca em um caso extraconjugal com Sebastian (Cosmo Jarvis), um trabalhador da propriedade do marido, que as coisas começam a mudar. Ela só não contava que isso iria desencadear vários assassinatos.
Com aspecto suntuoso, frio e direto acompanhamos a protagonista Katherine que por conveniência casa-se com um homem agressivo e arrogante, ele não a toca em momento algum, mas a humilha sob diversas maneiras, completamente subjugada passa seus dias trancada dentro do casarão, quando o marido se ausenta ela começa a explorar o exterior e é a partir daí que conhecemos seu caráter duro e cruel, ela sofre nas mãos do sogro que é rígido na questão dela se manter no papel de mulher da casa e se resguardar, claro que Katherine não se curva ao sogro e nem ao padre que vem dar lições, se mantém serena, mas por dentro queima, ela cada vez mais quer se libertar e encontra em Sebastian uma paixão avassaladora, um escravo bonito e robusto que supre seus desejos carnais, o que de início parecia uma aventura para ele se transforma mais adiante em um pesadelo sem fim. É impressionante a identificação com a personagem no início, em pleno século XIX agir com determinação e ousadia, sair do protocolo e seguir seus desejos, mas ela sofre as agonias advindas dos seus atos, em um sistema completamente patriarcal e repressor não há espaço para sentimentos bons e tudo desanda quando coloca a frente suas vontades ao invés de seguir as normas. A empregada Anna (Naomi Ackie), ora demonstra afeto, ora medo, ora crueldade, os olhos sempre atentos, a obediência é que garante sua permanência ali, a tensão racial é aguda e com o decorrer ela vai se intensificando muito mais. Os sentimentos em relação a Katherine vão se embaçando no momento que começa a agir com requintes de crueldade, Sebastian vai sendo engolido por essa mulher e quando percebe é tarde demais e está preso numa situação irremediável, ele é escravo em todos os sentidos.
A crueza impera e a falta de trilha sonora aumenta essa sensação, porém é um filme pulsante que prima por movimentos e olhares poderosos, além das pausas solenes e enigmáticas. Os embates de poder que a protagonista trava com os outros personagens e suas graves consequências a revelam como um ser humano repleto de nuances que ao mesmo tempo em que se pôs a frente numa época castradora, agiu também com egoísmo calculando todas as suas ações. Ela é vítima das circunstâncias, viver para a submissão e ainda mais solitária deixa qualquer um louco, quem acaba sofrendo ainda mais são os criados que não possuem vida própria.
"Lady Macbeth" é um filme belíssimo, fascinante e que permite refletir sobre questões de gênero, classe e raça, a protagonista atravessa a tela, um brilhante trabalho de Florence Pugh, que passeia entre a frieza e o deboche, um personagem feminino marcante e subversivo. Uma obra de estética estonteante e narrativa arrebatadora!
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