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quinta-feira, 29 de março de 2018

Eu Não Sou uma Bruxa (I Am Not a Witch)

"Eu Não Sou Uma Bruxa" (2017) dirigido por Rungano Nyoni retrata com propriedade à caça as bruxas na África e o como o governo se beneficia disso, além da humilhante posição delas na sociedade. Uma história pungente e trágica.
Depois de um incidente banal em sua aldeia local, Shula (Maggie Mulubwa), de 8 anos, é acusada de feitiçaria. Um breve julgamento a considera culpada e ela é levada à guarda do estado e exilada para um campo de bruxas no meio de um deserto. Lá, ela participa de uma cerimônia de iniciação onde aprende as regras em torno de sua nova vida como bruxa. Como os outros residentes, Shula é amarrada a um carretel com uma fita. Dizem-lhe que se cortar a fita, será amaldiçoada e transformada em uma cabra.
Apesar do filme conter um certo humor não anula o choque e desconforto, são cenas longas que exploram a situação da menina, que do nada é exposta e denunciada como sendo uma bruxa, a acusam de envenenar a água do poço e outro alega que ela lhe cortou o braço em um sonho, o funcionário Sr. Banda (Henry BJ Phiri) é chamado e então a colocam numa comunidade destinada às bruxas, todas mulheres mais velhas que servem ao governo como escravas, todas presas a carretéis gigantes, é dada a escolha para Shula, ou você se considera uma bruxa ou ao cortar a fita se transformará em uma cabra. A criança faz sua escolha e é acolhida pelas mulheres que não a deixam trabalhar, logo começa a ser utilizada para apontar entre vários suspeitos quem teria cometido roubos, assim ela ganha certa fama e começa a ganhar oferendas, das quais Banda se aproveita. Ela se aproxima da mulher de Banda, também bruxa, mas que como ela mesma diz conseguiu ser respeitada por fazer tudo que lhe disseram para fazer.
Acompanhamos cada momento com grande apreensão, a inocência e o receio são capturados com maestria, algo muito pontual na história são os olhos de Shula. Várias partes incomodam, como ver turistas tirando fotos enquanto a menina sofre, as mulheres todas juntas presas a um carretel, condenadas a uma condição ilusória e ainda sendo usadas para benefício do governo, são desprezadas na sociedade, castra-se todo tipo de direito e perpetua pensamentos limitados.

O desejo de liberdade cresce em Shula, ela questiona em determinada parte quando bem triste com tudo que vem lhe acontecendo que deveria ter escolhido se transformar em uma cabra, pois uma cabra é livre e come quando quer, mas a mulher ao lado responde que seria morta em breve para alimentar os homens. Ter apenas um momento de liberdade mesmo com a morte lhe esperando ao invés de passar acorrentada e humilhada a vida toda é uma reflexão potente e que fica cravada na mente. 

"Eu Não Sou uma Bruxa" é uma sátira moderna sobre a superstição e a bruxaria em países africanos, o absurdo desta situação nada mais é que a misoginia entranhada, o filme propõe um olhar cruel, incômodo e objetivo. É poderoso e necessário!

2 comentários:

  1. O filme está na lista da edição deste ano do Ciclo de Cinema Europeu em Moçambique. Este blog atiçou mais ainda a minha vontade de ver. Muito obrigada!

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    1. Que maravilha! Veja sim e depois volte para dizer o que achou ;)

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