"A Festa de Aniversário de Henry Gamble" (2015) dirigido por Stephen Cone (The Wise Kids - 2012) é um filme que retrata com realismo todo o falso moralismo que permeia o universo cristão, os conflitos pessoais são expostos com sinceridade e cada personagem possui seus segredos, seus desejos e suas confusões devido a repressão causada pela religião.
Henry (Cole Doman), que comemora seu aniversário de 17 anos, está claramente lutando com sua sexualidade, já que seu pai (Pat Healy) é um pastor evangélico de uma mega-igreja suburbana. Henry não é o único membro de sua família com questões pessoais: sua mãe (Elizabeth Laidlaw) é profundamente infeliz em seu casamento, e sua irmã (Nina Ganet), está voltando para casa depois de seu primeiro ano na faculdade. Um filme sobre pessoas divididas entre suas crenças religiosas e a vertiginosa liberdade do mundo.
Acompanhamos o adolescente Henry ao longo do dia de seu aniversário, ele está se descobrindo sexualmente e reprime seus desejos por conta de sua rígida criação cristã, aliás todos os personagens apresentados sofrem com isso, a mãe é infeliz no casamento, a irmã possui problemas com seu próprio corpo e é confusa por sentir desejos pelo namorado, o pai, um pastor evangélico que segue à risca as regras, e todos os amigos que frequentam a comunidade exibem essa faceta hipócrita, mas aos poucos e muitas vezes sem diálogos a imagem deles de seres perfeitos caem por terra. Ao redor da piscina cristãos e não-cristãos dividem espaço, como as duas amigas de Henry que nada têm a ver com os da comunidade da igreja, todos se adaptando e curtindo o momento, com o passar das horas conhecemos mais os personagens, no caso Henry está ainda se descobrindo e tentando não demonstrar, por outro lado há um personagem atormentado pelo fato das pessoas não o compreenderem, julgam e negam a verdade. Essa repressão destrói o ser humano de um jeito irreversível. Vemos personagens bebendo escondido, assistindo coisas proibidas, personagens que apenas apontam o dedo e que foram para criticar o modo dos jovens, esses que em vários diálogos exibem ideias retrógradas e preconceituosas. Sem dúvidas, uma baita crítica a essas comunidades ditas perfeitas que pregam o amor e que na verdade só disseminam ódio, que fazem as pessoas se sentirem péssimas por aquilo que elas são e assim repreender suas vontades e seus desejos.
O filme segue com um ritmo tranquilo e as situações vão se apresentando naturalmente e sem necessariamente serem resolvidas, o realismo é a grande marca do longa, assim como as sensíveis interpretações, os olhares e a maneira de se comportarem nos revela muito mais do que qualquer diálogo, as tensões e os desconfortos são delineados com sutileza, porém sempre com uma imensa dose de reflexão. A trilha sonora também ajuda a conduzir a trama, na festa o pai permite que Henry coloque as suas playlists, somos envolvidos por canções que mesclam melancolia e sensualidade, como "Only For You", de The Pass, "Everyone is Dark", de New Canyons, "Mylene", de YAWN, entre tantas outras.
"A Festa de Aniversário de Henry Gamble" trata da repressão sexual no meio cristão de maneira sincera e vai pincelando os problemas de cada personagem para expor o como encaram a homossexualidade, desejos e a liberdade; o falso moralismo é gritante e incomoda. É um filme bonito, crítico e encantador!
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