"A Região Selvagem" (2016) dirigido por Amat Escalante (Heli - 2013) é um filme polêmico e poderoso que traz uma história envolvendo uma mulher traída e um alienígena que desperta prazeres sexuais, uma crítica ao conservadorismo, a repressão, o machismo e preconceitos, tudo exposto de forma bizarra, mas que com certeza captura nossa atenção.
Um meteorito cai em uma montanha. Em uma cidade próxima, um jovem casal se esforça para se reconectar, e o homem trai a mulher. O processo é autodestrutivo para ambos. De repente, algo de fora deste mundo surge, mudando suas vidas para sempre.
Após a queda do meteorito somos inseridos na cena em que Veronica (Simone Bucio) se satisfaz sexualmente com os tentáculos do alienígena, o casal que detém o extraterrestre teme por ela, pois nessa "sessão" saiu machucada, Veronica carrega um semblante pesaroso, pois sabe que não poderá mais vê-lo e o prazer jamais vai ser sentido novamente, no hospital quem cuida da ferida dela é o enfermeiro Fabian (Eden Villavicencio), muito simpático o moço chama ela pra sair junto de sua irmã Alejandra (Ruth Ramos) e o cunhado Ángel (Jesús Meza), do qual mantém uma relação escondida, um hipócrita que cospe preconceitos e evita falar com Fabian perto da esposa pelo fato de ser gay, mas escondido manda mensagens e sai com ele. Há uma tensão sexual entre Veronica e Fabian, partindo mais do lado dela, e Ángel fica enciumado e desconta sua raiva das formas mais machistas e preconceituosas possíveis, começa a ameaçar Fabian e então este decide romper com a relação abusiva. Nisso, Veronica o insere no mistério envolvendo o alienígena que desperta grandes prazeres nas pessoas, só que no dia seguinte ele é encontrado pelado inconsciente num lago, a irmã desesperada tenta entender o porquê e ao entrar na casa do irmão encontra o celular e visualiza as mensagens entre ele e seu marido, algumas de cunho ameaçador, logo a suspeita cai toda em cima de Ángel, atormentada pela traição de ambos denuncia o marido e Veronica a acolhe e lhe mostra o caminho para o alienígena, e é nesta relação que encontra alívio e satisfação. A cena que se sucede é estranha, o casal de idosos lhe dá um chá que a droga e depois a coloca no celeiro, de início se assusta com o que vê e aos poucos a câmera revela o ser que habita ali e emana tanta excitação. As cenas são altamente eróticas, tentáculos que passam e adentram o corpo, uma carga sexual libertadora.
Mas o que será que o alienígena realmente quer das pessoas, ele simplesmente precisa se saciar sexualmente e quando cansa torna-se perigoso, ou poderia ter algo haver com a tendência, que ao entrar no local com o caráter totalmente exposto transfigurava-se em prazer sexual ou violência? Várias questões surgem e a subjetividade é imensa, e é por isso que a obra se torna grande, por exemplo, sobre o desejo feminino, a cena em que Ángel faz sexo com Alejandra demonstra essencialmente o egoísmo machista, ela ali é apenas um objeto, logo a vemos no banho se masturbando, mas os filhos a interrompem, parece não haver espaço para o prazer feminino, como se não existisse, e ao final Veronica até tenta transar com um homem, mas não consegue sentir nada, uma pequena amostra do quanto o ato sexual é ainda repleto de tabus e permeado de preconceitos.
"A Região Selvagem" acerta em cheio na atmosfera criada, provoca o espectador com a quebra dos estereótipos e ideias arcaicas, tabus religiosos que reprimem e tantos preconceitos que envolvem as relações, a cabana com o extraterrestre representa a libertação de todos os paradigmas e desnuda quem está ali, mostrando o seu lado primitivo onde convenções sociais não interferem no desejo. Um filme libidinoso, pulsante e que abre um leque de ideias interessantes e primordiais.
A região selvagem fala principalmente sobre os sentimentos obscuros de cada um, oprimidos pelas tradições sociais na forma de casamento, trabalho, status social e pelo próprio desejo. A criatura extraterrena vem para quebrar essas tradições e dar àqueles que a procuram uma experiência libertadora, fora da mesmice de suas vidas. Mas tudo em excesso é como veneno e afeta tanto a criatura quanto seu frequentador. E de uma trip libertadora, torna-se fonte de horror e morte. Fiquei curiosa quanto ao casal que conduzia as sessões e se eles tiveram o contato com a coisa da mesma forma que aqueles a quem indicavam os encontros.
ResponderExcluirAs imagens são impactantes e tensas. Realmente precisamos de um filtro para levar até o fim sem pensar que o diretor queria apenas mostrar cenas de sexo gore.